“Espectáculo horroroso” e “dinheiro fácil”. As competições de chapadas são agora um desporto

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MayrowMMA / YouTube

A regulamentação do desporto vai avançar e o Nevada já aprovou a criação de uma liga. Os críticos consideram que a ideia é “o que aconteceria se deixássemos rapazes de 13 anos inventar um desporto”.

Se o pugilismo pode ser um desporto, então dar uma chapada bem dada também o pode ser — ou pelo menos é isto que acha o presidente da UFC (Ultimate Fighting Championship), Dana White, que deu luz verde à criação da Power Slap League.

A ideia é exactamente o que o nome indica, duas pessoas defrontam-se e dão estalos uma à outra. A comissão desportiva do estado do Nevada, nos Estados Unidos, aprovou na semana passada a criação de uma liga, que vai agora supervisionar.

Vários vídeos da competição Slap Fighting Championship, que decorreu este ano, tornaram-se virais e acumulam milhões de visualizações no YouTube. Figuras como o actor Arnold Schwarzenegger ou o YouTuber Logan Paul marcaram presença no evento. “Graças a Deus que não fui eu a levar a chapada”, disse até Schwarzenegger.

As competições de chapadas não são nada de novo, mas esta é a primeira vez que um órgão reconhece a práctica como um desporto e vai começar a supervisionar as competições. A nova liga terá requisitos médicos semelhantes aos das Artes Marciais Mistas (MMA) e também será dividida em classes de acordo com o peso.

Os atletas terão de usar equipamentos de protecção, como tampões nos ouvidos e protecções dentárias, e fazer ser sujeitos a testes frequentes ao sangue e a exames ao cérebro. Também haverá regras sobre como dar e receber a chapada e quais as partes da cara que podem ou não ser atingidas. O sistema de pontuação será de 10 pontos, semelhante ao usado no boxe e no MMA.

“Depois dos testes, tornou-se claro que há um potencial massivo aqui enquanto desporto semelhante ao verificado nos anos iniciais do UFC. Fazia todo o sentido avançar para a regulamentação antes do início do desporto, pelas razões óbvias — em primeiro lugar, a saúde e segurança dos competidores“, explica Hunter Campbell, director de negócios do UFC, à ESPN.

Ainda não se sabe quando a liga vai arrancar, mas Campbell espera que a iniciativa atraia o interesse de parceiros para a transmissão até ao final do ano.

“É só ataque sem defesa”

Dada a natureza do desporto, as críticas não tardaram, com muitas acusações de que a práctica é demasiado perigosa e não deve ser encorajada.

“Esta ideia da comissão é um lixo puro. Zero autoridade para fingir que quer saber da saúde e da segurança. Este “desporto” apenas causa traumas no cérebro. Mais nada”, criticou Erik Magraken, advogado especializado na regulamentação de desportos de combate, no Twitter.

Luke Thomas, analista de desportos de combate para CBS, concorda. “Se o boxe é bater e não levar, as lutas de chapadas são o oposto porque levar é suposto levar sem impedimento. A comissão do Nevada não tem vergonha“, considera.

“É só ataque sem defesa. É comum ver os competidores com concussões fortes ou a caírem inconscientes devido à força dos estalos”, atira Trent Reinsmith, no Bloody Elbow, site dedicado à UFC.

Já o jornalista Ben Fowlkes descreveu a ideia como “o que aconteceria se deixássemos rapazes de 13 anos inventar um desporto“, cita o The Guardian.

“Dana White e companhia podem achar que avançar com a regulação, como fizeram com o MMA, ajuda a legitimar esta ideia, mas nada sobre as competições de chapadas é um desporto. É um espectáculo horroso para fazer dinheiro fácil. Mais vale darem pontapés nos tomates“, opina Simon Samano, jornalista do USAToday.

Estas críticas não são sem fundamento. Desde o início da pandemia que as competições de chapadas têm ganhado popularidade, e houve até já uma morte. No ano passado, o polaco Artur “Waluś” Walczak foi bofeteado várias vezes num evento em Outubro e acabou por perder a vida um mês depois no hospital, depois de ter sido induzido em coma.

“A comissão atlética tomou a decisão certa”

Em resposta às críticas, Dana White não dá o braço a torcer. “Será regulado exactamente como este desporto (MMA) é. Vi muitos jornalistas patetas a dizer merdas e a dizer ‘o que vem a seguir, levar com marretas?’. Merdas estúpidas dessas”, afirma, citado pelo Give Me Sport.

“No final de contas, num combate de boxe, eles levam com 300 ou 400 socos. Estes gajos vão levar três chapadas. Estes idiotas dizem estas merdas sobre a comissão atlética, mas a comissão atlética tomou a decisão certa”, assegura.

O presidente da UFC sublinha ainda que o objectivo é “garantir que o desporto é seguro para todos”. “Deve ser regulado e o Nevada fez a coisa certa. Aplaudo-os e é por isso que são a comissão atlética mais respeitada no mundo”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

4 Comments

  1. A estupidez humana no seu melhor…
    Está provado que os praticantes de boxe sofrem mais de doenças cerebrais como o Parkinson , AVC e outras do foro degenerativo do que outro tipo de desporto. Todos os desportistas destas modalidades deviam ser alertados para este facto, principalmente quando são jovens.

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