A teoria das teorias da conspiração

Neologismos, narrativas longas, sinais de exclamação e interrogação, citações diretas, o uso do presente e de marcadores temporais, a voz passiva, hipérboles e ironia, imagens manipuladas e também cartoons – são os principais traços de textos conspirativos escritos em português.

Os artigos de conspiração em português apresentam características textuais e visuais específicas e os seus textos recorrem frequentemente a neologismos e termos técnicos e científicos para dar uma “maior aparência de cientificidade”.

Esta é uma das primeiras conclusões do MAICT (Multimodal Approach for Identifiyng Conspiracy Theories in Social Media) – um projeto exploratório financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), que tem como objetivo investigar a manifestação das teorias da conspiração multimodais (texto e imagem) nas plataformas digitais em português.

A investigação baseou-se na análise e anotação manual de um conjunto de documentos composto por artigos de conspiração recolhidos a partir da blogosfera portuguesa, “seguindo uma abordagem interdisciplinar que cruza áreas como a linguística forense e sociossemiótica social”.

“Os artigos de conspiração apresentam um conjunto de características textuais e visuais específicas, importantes para auxiliar a sua identificação”, sendo que normalmente “são narrativas longas, assentes num discurso fortemente polarizado, que apela às emoções e crenças dos leitores“, de acordo com os resultados científicos apresentados no workshop “Teorias da Conspiração: A multimodalidade na (des)construção de significado”, que decorre no ISCTE.

Em termos de texto, “observa-se o uso excessivo de pontuação marcada”, ou seja, sinais de exclamação e interrogação, e “expressões com polaridade negativa”.

Além disso, as citações diretas, que são muitas vezes apresentadas em outras línguas, “são também usadas abundantemente, nomeadamente para persuadir o leitor sobre os argumentos apresentados”.

Também a inclusão “abundante” de hiperligações nos textos – que muitas vezes remetem para páginas que não existem ou distintas do que se pretende – “ajuda a reforçar a repetição e a circularidade inerente aos conteúdos conspiratórios”.

Em termos verbais, conclui a investigação, há o “uso preferencial do tempo presente e de marcadores temporais, o que contribui para criar um sentido de urgência e atualidade”.

Por sua vez, a voz passiva “é frequentemente usada para obscurecer a responsabilidade e aumentar a suspeição junto dos leitores, bem como para destacar a responsabilidade dos conspiracionistas por aspetos conotados como sendo positivos, ao mesmo tempo que remete para segundo plano aspetos com conotação negativa que possam ser interpretados como sendo de sua responsabilidade”, lê-se nas conclusões.

As narrativas “recorrem igualmente” à hipérbole e ironia “para reforçar os factos apresentados e ridicularizar as figuras de autoridade”, que são habitualmente descritas “como figuras viciosas, sobretudo do mundo da política e das instituições”.

Relativamente às imagens, “estas são frequentemente manipuladas ou fabricadas, e representam essencialmente figuras humanas, especialmente homens adultos em trajes formais, representando visualmente a elite”.

O uso de cartoon nas teorias da conspiração “serve uma função essencialmente desumanizante, marcada pelo antissemitismo e racismo, representado os grupos-alvo como inferiores”.

No caso do discurso visual religioso, “esse incide maioritariamente na fé católica”.

ZAP // Lusa

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