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Comércio arrasado e milhares de empregos ameaçados após inundações em Lisboa

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António Pedro Santos / Lusa

O comércio é uma das principais vítimas das inundações em Lisboa. Há ainda centenas de milhares de empregos ameaçados pelas cheias no Tejo.

O presidente da Confederação Portuguesa de Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) alerta que as inundações dos últimos dias foram “desastrosas” para o comércio local.

Com o Natal à porta, milhares de micro empresas viram-se abaladas pelas cheias, alertou Jorge Pisco, em declarações à Rádio Renascença.

“Se algumas destas empresas já estavam com a corda da garganta, por causa da pandemia e da inflação, agora a situação é mesmo dramática”, atirou.

O presidente da CPPME pede ao Governo apoios “urgentes e imediatos” para acudir estas empresas. Pisco sublinha que o Governo “tem dinheiro do Orçamento do Estado para acudir a estas empresas”, ainda antes de equacionar usar fundos europeus.

“Noutras crises, o Governo vai esperando para ver o que acontece. E depois diz que tem linhas de crédito e finge que está a fazer um grande esforço de solidariedade, quando não o faz”, acrescentou.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, anunciou esta terça-feira que pretende criar um fundo de, pelo menos, 3 milhões de euros para apoiar os comerciantes e particulares que sofreram prejuízos com o mau tempo.

“Vou propor à Câmara Municipal um fundo para ajudar estas pessoas de, pelo menos, 3 milhões de euros. Estou a fazer os cálculos. É importante que as pessoas saibam que a Câmara Municipal vai atuar rapidamente. Nós temos de ajudar as pessoas neste momento, exatamente porque não temos a solução estrutural”, disse o autarca em entrevista à TVI.

Apesar de a liderança da Câmara de Lisboa querer avançar com este apoio, Carlos Moedas reconheceu que este é “insuficiente” e defendeu a necessidade de o Governo ser célere com os apoios que irá disponibilizar. “O Governo tem de ajudar já. Tem de ser rápido”, apelou.

Na entrevista, o autarca voltou a sublinhar que os fenómenos de enorme pluviosidade que ocorreram na madrugada de hoje e no final da semana passada “são muito difíceis de prever” e que a solução estrutural para mitigar os seus efeitos será a construção de dois túneis de drenagem.

“A única solução são os túneis de drenagem. Há três meses, em alguns discursos, eu falava nos túneis de drenagem. As pessoas não ouviam, às vezes, porque isto era algo invisível”, apontou.

Segundo explicou, a ideia é construir um túnel entre a zona de Monsanto e a de Santa Apolónia e entre a de Chelas e o Beato, evitando que a água chegue às zonas mais baixas da cidade de Lisboa.

Até que essa solução estrutural não esteja implementada, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa admite que a única forma de prevenir acidentes é permitindo que as pessoas possam ficar em casa, defendendo que as empresas devem estar preparadas para essa situação.

 

435 mil empregos ameaçados

As cheias na região envolvente ao Tejo e às ribeiras do Oeste podem afetar cerca de 435 mil empregos, segundo o Jornal de Notícias. A informação consta do Plano de Gestão dos Ricos de Inundações do Tejo e das Ribeiras do Oeste – 2.º Ciclo (2022-2027), da Agência Portuguesa do Ambiente.

Na zona do Tejo e das ribeiras do Oeste, que abarca 103 municípios, “as cheias assumem especial relevância pela extensão da área sujeita a inundações, mas também pela relevância dos núcleos urbanos sujeitos a este tipo de ocorrências”, lê-se no documento.

Além de afetar centenas de milhares de empregos, vai ainda ter impacto em mais de 119 mil negócios. O comércio e o turismo são os principais afetados.

No entanto, as medidas anunciadas em 2016 para minimizar este tipo de situações tinham, em dezembro de 2020, uma taxa de execução de 45%.

Trabalhadores com faltas justificadas

De acordo com juristas consultados pelo jornal Público, os trabalhadores que se vejam impedidos de chegar ao emprego devido ao mau tempo devem ter a falta justificada e sem perda de remuneração.

O artigo 249.º considera justificada a falta “motivada por impossibilidade de prestar trabalho devido a facto não imputável ao trabalhador, nomeadamente observância de prescrição médica no seguimento de recurso a técnica de procriação medicamente assistida, doença, acidente ou cumprimento de obrigação legal”.

Embora não sejam referidas situações de mau tempo em específico, estas parecem enquadrar-se neste artigo.

Por outro lado, as escolas de Lisboa continuaram abertas, mas “no âmbito da sua autonomia podem decidir encerrar”, confirmou fonte do gabinete de comunicação do Ministério da Educação.

Todos os distritos de Portugal continental estão a partir das 09:00 desta quarta-feira sob aviso amarelo devido à previsão de aguaceiros por vezes fortes e acompanhados de trovoada, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Enquanto isso, a situação em Lisboa não está famosa.

A Proteção Civil registou 2.992 ocorrências entre as 00:00 e as 22:30 de terça-feira, com quase metade a ocorrerem no distrito de Lisboa, sobretudo inundações.

“Neste momento as coisas estão mais calmas, apesar de haver muitos operacionais ainda a trabalhar dada a quantidade de ocorrências, nomeadamente inundação em garagens, caves e outros locais que requerem muitas horas de trabalho”, disse à agência Lusa o comandante José Rodrigues, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

As estações meteorológicas da região de Lisboa registaram entre segunda-feira e hoje “os valores mais elevados” de precipitação de Portugal continental, indicou o IPMA.

“Em relação à quantidade de precipitação em períodos curtos (uma hora, três horas, seis horas e 12 horas), destacam-se as estações meteorológicas da grande região de Lisboa nas quais foram registados os valores mais elevados do território continental”, adiantou o IPMA.

Esta madrugada foi mais calma, mas espera-se hoje um novo agravamento meteorológico, a partir das 9h e até às 18h, com chuva persistente e pontualmente forte.

Segundo as previsões do IPMA, a precipitação deve manter-se pelo menos até ao fim de semana, sendo que na quinta-feira todo o país deve sair do estado amarelo.

Daniel Costa, ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Que bola de cristal?
    A desculpa agora são as alterações climáticas. Mas chuvas fortes sempre existiram, excepto nos 2 ou 3 últimos anos. O problema é que nunca foi feito nenhum planeamento sério e permitiu-se construir a torto e a direito. O resultado está a ver-se
    Mas as alterações climáticas têm costas largas…

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