“Deliciosas forças de destruição”. Apesar da discordância, cada vez mais se ouve da boca de especialistas: a solução para travar certas espécies invasivas é comê-las — e alguns restaurantes estão a aceitar a ideia.
É o caso do restaurante londrino Silo, que para além do esquilo-cinzento já trabalha com o lagostim-do-Pacífico e com a sanguinária-do-japão, uma das 100 maiores espécies invasoras do mundo.
O princípio básico jaz no “desperdício zero”, sendo que o objetivo passa por “popularizar criativamente espécies que são prejudiciais para o ambiente”, conta o chef Douglas McMaster à AFP, de acordo com a Raw Story.
Confessa ainda que as três espécies com que trabalha não só são comestíveis, como “deliciosas”, mas infelizmente são “forças de destruição” cujo alvo são as populações locais. Mas a sua exploração gastronómica enfrenta obstáculos e riscos.
Um dos obstáculos prende-se à falta de cadeias de distribuição das espécies, o que impede muitos chefs de recorrerem a elas. Mas uma distribuição em massa e a crescente popularização dos invasores, resultando num aumento da procura, por outro lado, poderia fazer com que as espécies se tornassem ainda mais invasoras.
Esquilo está a “provocar o caos”
Um projeto de vida selvagem quer começar a reintroduzir os esquilos vermelhos nativos e abater o esquilo cinzento não nativo, segundo a BBC.
O Projeto Esquilo de Exmoor está mesmo a pedir aos proprietários de terras para colocar armadilhas anti-esquilos e a restaurantes para servir pratos cujo ingrediente principal seja o esquilo cinzento.
A gerente do projeto, Kerry Hosegood, disse em fevereiro que o esquilo cinzento estava a “provocar o caos” nas florestas do Reino Unido, resultando em custos avaliados em cerca de 40 milhões de libras (46 milhões de euros) por ano em danos às árvores.
“Se não implementarmos bons planos de ação, vamos deixar de reconhecer as nossas paisagens”, disse: “as nossas florestas, paisagens e a biodiversidade não estão preparadas para lidar com os comportamentos do esquilo cinzento.”
Segundo o projeto, os esquilos cinzentos atacam árvores em busca de comida e retiram-lhes a casca, “levando eventualmente à morte da árvore”.
“Ao longo de 150 anos, tem [estado] a eliminar tanto da nossa natureza e as nossas florestas não conseguem reparar-se suficientemente rápido”, sublinhou: “está a provocar o caos nas nossas florestas em todo o Reino Unido.”
“Isto não é algo que gostamos de fazer, simplesmente focar nos cinzentos e dizer ‘Vamos removê-los a todos.’ É um projeto muito sério e há muitos planos em vigor sobre como estes esquilos são efetivamente tratados”, lembrou.
“O vermelho é o nosso esquilo nativo e na Grã-Bretanha estima-se que haja cerca de 120 mil, em comparação com uma estimativa de três milhões de cinzentos invasores.”
Hosegood disse ainda que a organização gostaria de incentivar o uso de esquilos cinzentos em ementas para limitar o desperdício.
“Vamos apresentá-los a restaurantes na área de Exmoor, porque são realmente bons para comer”, disse, confirmando a mesma ideia do restaurante Silo — desperdício zero.
“Não há desperdício ali. Os esquilos serão postos a bom uso em vez de serem postos num buraco no chão”, afirmou.
Comer o lagostim-do-Pacífico? Talvez não seja boa ideia…
Importado na década de 1970 para consumo humano antes de escapar e colonizar as vias fluviais, o lagostim-do-Pacífico tem conquistado terreno em detrimento do lagostim de patas brancas, não só porque transmite uma infeção fúngica à qual é imune — a afanomicose ou “peste do lagostim” — mas também porque beneficia do facto de ter poucos predadores, nomeadamente lontras e garças, que não conseguem por si só conter a sua propagação.
Em Inglaterra, a espécie invasora substituiu completamente a nativa, mais pequena em tamanho, que sofreu um declínio de 80-90% na população e corre agora o risco de extinção. Mas a simples captura dos lagostins maiores não ajuda a conter a propagação — aliás, pode apenas piorar.
Remover os grandes e carnudos lagostins para os comer ajuda o jovem lagostim-do-Pacífico a sobreviver, fomentando a propagação da espécie invasora.
Na mesma perspetiva, perturbar a knotweed japonesa também pode apresentar riscos.
Um coração problemático
Introduzida no Ocidente como planta ornamental, originária do leste da Ásia, a sanguinária-do-japão revelou-se invasiva em vários ecossistemas. É especialmente resistente e adaptável e pode crescer em solos pobres e condições adversas.
Caracteriza-se pelas suas hastes eretas, que podem atingir até 3 metros de altura, e pelas suas folhas que surgem, por vezes, em forma de coração.
Parecem “fofinhas” não é? Mas a verdade é que o seu rápido crescimento e a sua capacidade de formar densas colónias fazem dela uma ameaça às plantas nativas, já que compete eficazmente por recursos como luz, água e nutrientes. O seu sistema radicular é também bastante agressivo e pode causar danos em estruturas construídas pelo homem, como estradas e fundações de edifícios.
No contexto europeu — inclusive em Portugal — a sanguinária-do-japão é considerada uma espécie invasora problemática.
Cresce em solo livre, junto a casas, em muros, pavimentos ou passeios. As raízes e rizomas podem danificar essas infraestruturas e interferir com canalizações, tubos de drenagem e esgotos, danificando tubagens e entupindo fossas de drenagem ao explorar fendas mais frágeis em busca de água.
Existem várias estratégias para o seu controlo, desde o uso de herbicidas a métodos mecânicos de remoção. No entanto, a erradicação completa é geralmente difícil e requer um esforço contínuo.
Já flatou mais para os anglo-saxões se dedicarem além de roedores também ao canibalismo. Caso para dizer, nunca confies nos instintos primitivos e crueis desses anglo-saxões. Basta ver o lixo que desde o século passado comem.