De acordo com um novo estudo a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia era importante para a preservação florestal. Com o fim do conflito, grupos de interesse têm destruído a floresta para a agricultura.
O muito antecipado acordo assinado em 2016 entre o governo colombiano e os rebeldes armados colocou fim a uma das guerras civis mais longas do mundo, que já durava há 57 anos. No entanto, nem tudo foram boas notícias e a paz trouxe consigo efeitos nefastos nas florestas colombianas.
De acordo com um estudo publicado em Julho no Global Environmental Change, a desflorestação no país aumentou 40% quando comparada com os últimos 24 anos, quando o conflito entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) estava na fase mais violenta, com os rebeldes a ter uma presença forte no país.
O investigador Paulo Murillo-Sandoval liderou a investigação e afirma que o objectivo do estudo era avaliar as mudanças na área florestal da parte colombiana da Amazónia antes, durante e depois da guerra.
Estudos anteriores (como este ou este) já mostravam um aumento da desflorestação no período de paz, mas esta pesquisa distingue-se por também ter em conta as mudanças nas florestas 30 anos antes da assinatura do tratado que acabou com a guerra e compará-las com a situação actual.
Para esta análise, os autores tiveram em conta a desflorestação que ocorre no raio de um quilómetro dos sítios onde ataques armados causaram pelo menos um morto. A correlação entre a incidência da violência e a desflorestação foi calculada com os dados do Programa de Dados de Conflito Uppsala – que regista os confrontos entre diferentes grupos armados.
Os investigadores identificaram um número total de 181 acontecimentos violentos e concluíram que a redução na área florestal no raio de um quilómetro destes eventos evoluiu de uma média de 19% durante o conflito para 30% no pós-guerra.
“Observamos as imagens de satélite do Arquivo Landsat e comparamos como o uso da terra foi transformado quando as FARC eram a autoridade ambiental em grande parte do território colombiano e quando abandonaram esses territórios, abriu-se o caminho a camponeses, grandes empresas e ao estado”, afirmou Murillo-Sandoval, numa entrevista citada pelo Mongabay.
A FARC foi importante na protecção das florestas de interesses económicos. “Depois do tratado de paz ter sido alcançado, as florestas ficaram mais seguras mas também tinham pouca ou nenhuma fiscalização governamental, o que deu a oportunidade a pessoas com dinheiro e poder de tomarem conta da terra”, explica David Wrathall, um dos autores do estudo, numa nota de imprensa.
Murillo-Sandoval afirma que é “inegável” que presença das FARC foi um obstáculo para a desflorestação. “Na área Andes-Amazónia, entre 1988 e 2012, a área florestal que foi transformada para agricultura chegou aos 1.2 milhões de hectares, enquanto que só entre 2013 e 2019, a conversão foi muito mais rápida, com 0.5 milhões de hectares“, explica.
Os autores concluem com um alerta de que a implementação lenta de medidas de conservação na região, a emergência de mercados ilegais de terra para os ricos e poderosos e o uso do território para actividades como a pecuária ilegal ou a plantação de coca podem continuar a acelerar o processo de desflorestação.