Cientistas mapearam o cérebro da mosca da fruta — em 20 milhões de pequenos passos

Fedaro / Wikimedia

A cabeça de uma mosca da fruta comum.

Uma mosca da fruta comum.

Uma equipa de investigadores está a criar um mapa detalhado do cérebro da mosca da fruta, mostrando o potencial que pode vir a ter no estudo do cérebro de animais — e até dos humanos.

Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, a mosca da fruta tem cérebro. A única questão é que é do tamanho de uma semente de papoila.

Apesar de bastante pequeno, o cérebro desta mosca é também bastante complexo, contendo cerca de 100 mil neurónios e dezenas de milhões de ligações entre eles — as chamadas sinapses.

Nos últimos sete anos, uma equipa de investigadores tem estudado os neurónios e as sinapses na esperança de criar um mapa detalhado das conexões neurais desta criatura — o chamado conectoma. O trabalho ainda continua, mas a informação recolhida até agora é surpreendente, escreve o The New York Times.

Ao analisar o conectoma de uma pequena parte do cérebro da mosca da fruta, os investigadores conseguiram identificar dezenas de novos tipos de neurónios e precisar os circuitos neurais que parecem ajudar as moscas a movimentar-se pelo mundo.

Esta informação pode vir ajudar a comunidade científica a esclarecer como é que os cérebros dos animais — e até os nossos próprios cérebrosprocessam informação sensorial e a traduzem na devida ação.

“É realmente extraordinário”, disse o autor principal do novo artigo Clay Reid. O investigador sugere que os conectomas são uma ferramenta de que precisamos na neurociência.

O único conectoma completo no reino animal pertence à humilde lombriga, C. elegans. O projeto que valeu um Prémio Nobel ao biólogo Sydney Brenner rastreou todos os 302 neurónios à mão com canetas coloridas.

Entretanto, a ciência evoluiu bastante e já é capaz de mapear cérebros bem maiores, desde ratos a humanos.

Os investigadores cortaram o cérebro da mosca em placas e obtiveram imagens meticulosas de cada camada. O microscópio funcionava essencialmente como uma lima muito minúscula e precisa, lixando uma camada excessivamente fina do cérebro, tirando uma foto do tecido exposto e repetindo o processo até que nada restasse.

O passe seguinte foi usar um software para colar os milhões de imagens resultantes num volume tridimensional. O resultado foi enviado para a Google, que usou um algoritmo para identificar os neurónios e suas respetivas conexões.

O conectoma, que pode ser acedido gratuitamente online, inclui cerca de 25.000 neurónio e 20 milhões de sinapses, muito mais do que o conectoma de C. elegans.

O estudo foi publicado esta semana na revista científica eLife.

Daniel Costa, ZAP //

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