Numa era marcada por problemas de cibersegurança, com os piratas informáticos a encontrarem técnicas de ataque cada vez mais sofisticadas, uma equipa de cientistas conseguiu criar uma solução para manter dispositivos médicos implantáveis, como bombas de insulina e pacemakers, protegidos de hackers.
Ataques informáticos a dispositivos médicos, feitos através de ligações wireless, podem permitir a hackers aceder a sinais vitais de pacientes ou abrir a porta a eventuais acções prejudiciais para a saúde das pessoas visadas.
Este cenário assustador não terá ainda ocorrido, mas é plausível, como explica o professor Shreyas Sen, especializado em sistemas de comunicação e de detecção e um dos investigadores da Universidade Purdue, nos EUA, que se dedicou à pesquisa de alternativas para tornar os dispositivos médicos wearable mais seguros.
“Estamos a ligar cada vez mais e mais dispositivos à rede do corpo humano, desde relógios inteligentes e rastreadores de fitness até monitores de realidade virtual montados na cabeça”, constata Shreyas Sen num comunicado da Universidade sobre a investigação que foi publicada no jornal Scientific Reports.
“O desafio tem sido não apenas manter esta comunicação dentro do corpo para que ninguém a possa interceptar, mas também obter maior largura de banda e menor consumo de bateria”, constata ainda Sen.
Foi a partir desta problemática que engenheiros informáticos da Universidade Purdue, com Sen na equipa, se dedicaram a procurar uma forma de tornar mais seguros os aparelhos médicos que combinam tecnologias wearable e Bluetooth com uma rede de área corporal (habitualmente referida como BAN, a sigla de body area network).
“Os fluidos corporais transportam sinais eléctricos bastante bem. Até agora, a chamada “rede de área corporal” tem usado tecnologia Bluetooth, enviando sinais para e em redor do corpo”, constata Sen, frisando, contudo, que “estas ondas electromagnéticas podem ser apanhadas dentro de, pelo menos, um raio de 10 metros de uma pessoa“. Isto deixa campo aberto para a entrada em jogo de hackers habilidosos.
Para contrariar essa possibilidade, os investigadores desenvolveram um dispositivo que conecta sinais na “faixa electro-quase-estática, que é muito menor no espectro electromagnético”, como apontam.
Com recurso a um protótipo de relógio inteligente, conseguiram transmitir comandos através de uma BAN limitada – uma pessoa pode receber um sinal de qualquer parte do corpo, com o dispositivo a manter essa comunicação dentro do corpo de forma a que não seja acessível a piratas informáticos.
Desta forma, os sinais de comunicação criados não saltaram sequer um centímetro para lá da pele, o que os torna inalcançáveis para hackers.
“Mostramos, pela primeira vez, uma compreensão física das propriedades de segurança da comunicação do corpo humano para permitir uma rede secreta de área corporal, para que ninguém possa bisbilhotar informações importantes”, constata Sen.
Além disso, este tipo de comunicação utiliza 100 vezes menos energia do que as comunicações Bluetooth tradicionais.
Os cientistas estão agora a trabalhar com o Governo norte-americano e com a indústria para incorporar este aparelho num circuito integrado do tamanho de um grão de areia.
Além da protecção contra piratas informáticos, a tecnologia pode vir a ser usada na reprogramação de aparelhos médicos sem a necessidade de realizar cirurgias invasivas.
Pode também despoletar uma era que Sen denomina como “medicina bio-electrónica em circuito fechado”, com os aparelhos médicos implantáveis a funcionarem como medicamentos, mas sem os efeitos secundários.
O professor admite ainda que o dispositivo pode promover o uso de imagiologia cerebral de alta velocidade para aplicações em neurociência.