Conceituado cientista português acusado de assédio sexual

Universidade NOVA de Lisboa

O paleontólogo e professor universitário Octávio Mateus.

O conceituado paleontólogo português Octávio Mateus está a ser acusado de assédio sexual a investigadoras e estudantes. Os alegados crimes arrastam-se desde 2010 até à atualidade.

“O Octávio apalpou-me com várias pessoas ali, mas consegue fazer as coisas de maneira a que ninguém à volta se aperceba”, contou uma aluna de mestrado, em declarações à revista Sábado. A estudante não revelou a identidade por medo de represálias académicas.

Noutra ocasião, contou ainda a mesma aluna, Octávio Mateus, professor no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa, tentou beijá-la na boca.

Este é apenas um relato das dezenas de mulheres que agora denunciam os abusos de Octávio Mateus, após contacto da revista Sábado. As mulheres garantem ainda que a Universidade Nova de Lisboa tem conhecimento de tudo há vários anos.

Entre as alegadas vítimas está a investigadora neerlandesa Melanie During, que diz não se pôr “em risco a trabalhar com um predador”. A cientista recusa até participar em conferências onde o português possa estar presente.

Em janeiro do ano passado, o paleontólogo neerlandês Dann Wolthuis já tinha divulgado uma publicação no Facebook em que acusava o paleontólogo.

“Octávio Mateus, isto é para ti. Devias ter vergonha das tuas ações! Abusaste do teu poder para assediares sexualmente e beijares mulheres sem o seu consentimento. Na área da paleontologia, nunca mais trabalharei contigo e incentivo outros que saibam o mesmo que eu a fazerem o mesmo”, escreveu Walthuis.

“Alguém confiou em mim e contou-me uma história completa sobre o que se passou entre ela e este homem […]. Algum tempo depois, outra mulher confiou-me que ela também tinha experiências semelhantes com este mesmo homem”, lê-se ainda na publicação.

Face às novas denúncias de que é agora alvo, o professor universitário rejeita as acusações. “Nego veementemente qualquer acusação de assédio sexual”, respondeu por escrito o cientista português, acrescentando que admite “apresentar a competente queixa-crime por difamação”.

Os relatos dos assédios

De acordo com a Sábado, investigadoras e alunas acusam Octávio Mateus por atos de assédio sexual que envolvem “tocar no rabo”, “sentar alunas no colo”, “convidar uma colega para quarto de hotel”, “tocar a zona púbica de uma aluna” e “oferecer favores académicos e viagens em troca de silêncio sobre o seu comportamento”.

“Punha o braço à volta da minha cintura de cada vez que me via. Tocou-me nas pernas, nas ancas. Afastava-o sempre, mas ele parecia não ligar. Voltava a fazer o mesmo outra vez”, relata uma das alegadas vítimas.

“Se eu for conhecida na comunidade académica como alguém que denuncia assédio, terei sempre esse rótulo para ser contratada. Isto ainda é um mundo de homens!”, lamenta.

“Tenta beijar as estudantes, apalpa-as, propõe-lhes sexo, agarra-as, toca-lhes no pescoço, no rabo e até na zona genital”, recorda ainda outra mulher.

“Desculpe, temos muito medo de dar a cara. O Octávio Mateus tem muito poder. Através das classificações tem até o poder de decidir quem perde as bolsas”, disse outra mulher em declarações à Sábado.

Uma investigadora da Universidade Nova de Lisboa, que também ela se diz assediada pelo professor, recolheu denúncias. “Mas já sei que o número de vítimas é muito superior. Há casos de 2010 até este ano”, sublinhou, citada pelo Correio da Manhã.