As autoridades chinesas estão a bloquear o acesso à aplicação Clubhouse, que permite aos utilizadores na China falar sobre assuntos politicamente sensíveis, como Taiwan e o tratamento de minorias étnicas de origem muçulmana.
A decisão de adicionar o Clubhouse a uma lista com milhares de portais e aplicações bloqueadas pela censura do regime comunista ilustra o esforço de Pequim para controlar a narrativa entre o público chinês.
O acesso aos utilizadores da China foi interrompido na segunda-feira, segundo o GreatFire.org, um grupo sem fins lucrativos nos Estados Unidos que monitoriza a filtragem na Internet chinesa e tenta ajudar os utilizadores a contorná-la.
Os investigadores encontraram vários bloqueios em servidores dentro do grupo estatal das telecomunicações China Telecom Ltd., através dos quais o tráfego na Internet dentro e fora da China deve passar e assim ser controlado.
Esta é uma conduta que o Governo chinês promove e que designa de “soberania na Internet” ou o direito dos líderes políticos de limitar o que o público vê online.
A Clubhouse manteve aberto aos seus utilizadores chineses um fórum sem censura para estes pudessem falar sobre questões politicamente sensíveis – assuntos que muitas vezes não são discutidos de forma aberta devido à censura do regime.
Esses temas passavam pelos protestos em Hong Kong, os relatos de detenções em massa de uigures na região oeste de Xinjiang, o massacre da Praça Tiananmen em 1989 e o orgasmo feminino – tópicos que normalmente seriam censurados em qualquer plataforma de mídia social chinesa.
Ao contrário de muitas outras aplicações, a Clubhouse usa mensagens de voz, o que permite que os utilizadores na China falem diretamente com pessoas em Taiwan – a ilha reivindicada pelo Partido Comunista como parte do seu território.
Para os utilizadores terem acesso, vários portais de comércio eletrónico no país asiático venderam milhares de convites para a plataforma. Um dos compradores foi Elon Musk, o fundador da marca de veículos elétricos Tesla. A sua participação nos fóruns fez com que a aplicação ganhasse mais popularidade e começasse a difundir-se rapidamente na internet, realça o The Washington Post.
O serviço exigia então que os utilizadores tivessem convite para aceder e que fornecessem os seus nomes e números de telefone. Este sistema gerou alertas de que os utilizadores chineses poderiam enfrentar uma retaliação oficial, mas para já não houve indicação de que alguém foi punido por utilizar o serviço.
Esta não é a primeira vez que o regime chinês interfere com a liberdade das redes sociais. O partido no poder também bloqueia o acesso ao Facebook, Twitter e outras redes sociais, e milhares de portais administrados por organizações de notícias e de defesa dos Direitos Humanos, Tibete, pró-democracia e outros ativistas.
Redes sociais chinesas como o Wechat ou o Weibo também censuram conteúdo considerado ilegal pelo regime e denunciam utilizadores que difundem posições contrárias.