China tem arma secreta contra a Europa: o vento

Turbinas eólicas fabricadas pela China são “um risco enorme” na Europa: Pequim tem o poder de travar fornecimento de energia como forma de “pressão política” e “guerra económica”, diz relatório do governo alemão.

A China tem hoje um valioso aliado geopolítico: o vento (ou, mais especificamente, as turbinas eólicas que fabrica e que geram energia na Alemanha e outros países europeus).

Através destas turbinas, Pequim pode exercer pressão política e económica sobre a potência europeia, perturbando ou desativando remotamente o funcionamento das turbinas, atrasando projetos eólicos ou até usá-las para recolher dados sensíveis através dos softwares de controlo, caso obtivesse acesso a infraestruturas críticas alemãs.

O alerta vem de um relatório apoiado pelo governo alemão, elaborado no mês passado pelo Instituto Alemão de Defesa e Estudos Estratégicos — uma análise encomendada pelo Ministério da Defesa alemão. O relatório, analisado pelo Politico esta segunda-feira, avisa que fabricantes chineses, como a Ming Yang Smart Energy, têm o poder de bloquear as operações dos parques eólicos ou abrandá-las em quatro ou cinco anos, eventualmente, em colaboração com a Rússia.

O grande problema é a forte dependência europeia dos fornecedores chineses, não só na Alemanha. Vários países (como os Países Baixos, o Reino Unido, a Polónia e a Lituânia) já viram avisos públicos ou medidas legais para restringir a mão da China no fornecimento de turbinas eólicas devido ao perigo potencial de ciberataques. A dependência alemã no que toca a infraestruturas energéticas é especialmente preocupante, em particular a crescente dependência da energia eólica, que produziu um terço da eletricidade do país em 2023, avisa o mesmo relatório.

Ora, tendo em conta a atual situação política, e com a Europa cada vez mais preocupada com a sua segurança, “pode mesmo presumir-se que um tal abrandamento ou mesmo interrupção seria deliberadamente utilizado pela China como meio de pressão política“, lê-se no relatório. Permitir que a China manipule o fornecimento energético de uma potência europeia é um “instrumento de guerra económica” demasiado valioso para Pequim e abre portas ao comprometimento da estabilidade política, da competitividade económica e da coesão social do país, alerta o instituto, numa altura em que a Alemanha não parece estar a trabalhar no sentido de reduzir esta dependência, pelo menos no setor das energias renováveis.

Ainda em 2023, o promotor de projetos alemão Luxcara selecionou a Ming Yang Smart Energy para fornecer turbinas para o parque eólico offshore no noroeste da Alemanha, tendo já sido avisada dos perigos na altura.

“É um risco enorme”, avisa a diretora-geral da Fundação Alemã de Energia Eólica Offshore, Karina Würtz, que apela a Berlim para que avance com a aplicação das leis de cibersegurança da UE, em particular a diretiva NIS2 de 2023.

A pressão aos fornecedores chineses não se deve apenas a questões de segurança: a União Europeia também tem estado mais atenta a quotas injustas no mercado, obtidas através de subsídios estatais. A Comissão Europeia lançou uma investigação sobre projetos eólicos apoiados pela China na Bulgária, França, Grécia, Roménia e Espanha.

ZAP //

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