Mais de 200 mortos confirmados. Documento oficial revela números alarmantes: pelo menos 1900 pessoas estão desaparecidas depois da tempestade que assolou a região de Valência.
O cenário de devastação e caos mantém-se em Valência, depois da tragédia se ter instalado na cidade na semana passada.
Pelo menos 211 pessoas morreram nas inundações, disse este sábado o primeiro-ministro do país, Pedro Sánchez.
De acordo com um documento do Centro de Coordenação Operacional Integrado (CECOPI), divulgado pelo jornal El Diario, esta sexta-feira, as autoridades contabilizam atualmente 1900 desaparecidos — mas os números podem ainda aumentar.
A linha de emergência 112, criada para registar pessoas desaparecidas, recebeu até agora 75 mil chamadas, e embora algumas delas possam corresponder a múltiplos pedidos da mesma pessoa, já permitiu localizar cerca de 600 indivíduos. Mas as dificuldades logísticas complicam-se e o cenário hospitalar na região está a agravar-se.
O Hospital La Fe, um dos maiores da área, encontra-se próximo do seu limite de capacidade devido ao elevado número de feridos.
Além disso, a escassez de meios e a falta de cobertura telefónica em alguns municípios têm dificultado o contacto com as equipas de resgate.
Em Sedaví, “as pessoas estão entregues à sorte”, diz a enviada Joana Moreira do Observador, que avança que fonte dos bombeiros disse que a busca de desaparecidos tinha parado por parte das autoridades e que a prioridade era a recolha de corpos mortos.
A região com mais danos e vítimas causados pelo temporal é a Comunidade Valenciana, e em especial a província de Valência, onde ocorreram 202 das 205 mortes confirmadas até agora pelas autoridades.
O Governo espanhol reconheceu na quinta-feira à noite, pela primeira vez, que ainda permanecem “dezenas e dezenas” de pessoas desaparecidas nas áreas afetadas pelo mau tempo, o que confirmam também relatos das populações aos meios de comunicação social.
Além das vítimas mortais, o temporal provocou também danos em infraestruturas, com estradas e vias danificadas que permanecem intransitáveis, incluindo autoestradas.
A Câmara de Comércio de Valência, em Espanha, estima que cerca de 4.500 empresas da província sofreram danos com as cheias e que cerca de 1.800 destes estabelecimentos ficaram destruídos.
Marcelo volta a expressar solidariedade
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou hoje a expressar solidariedade ao monarca espanhol, Felipe VI, pelas consequências das inundações naquele país, enaltecendo a “resposta notável” da população.
Numa mensagem divulgada no sítio oficial da Presidência da República na Internet lê-se que “na sequência de mensagem enviada ao Rei de Espanha logo no início dos dramáticos acontecimentos vividos no país irmão, o Presidente da República falou telefonicamente com Felipe VI”.
De acordo com a nota, o chefe de Estado português reforçou “a solidariedade do povo português perante as mais recentes notícias, que revelam a extensão dos sacrifícios pessoais e materiais, bem como a resposta notável do povo espanhol a esta tragédia sem precedente conhecido”.
Mais 5 mil militares para ajudar
O governo regional da Comunidade Valenciana pediu mais 5.000 militares para tarefas de resgate, limpeza e apoio às populações nas zonas mais afetadas pelo temporal que atingiu o leste de Espanha na terça-feira.
Com este reforço, que tem de ter agora resposta por parte do Governo de Espanha, aumentará para 7.000 o número de militares no terreno, que são dos três ramos das Forças Armadas e da Unidade Militar de Emergências (UME), especializada em resposta em cenários de catástrofe.
O executivo valenciano explicou na sexta-feira, num comunicado, que depois de “72 horas de intenso trabalho de diagnóstico e primeira atenção, já não existe qualquer núcleo de população isolada e os acessos são seguros com as mensagens de preocupação enviadas à população e aos voluntários”. Também “as bases logísticas estão já operativas”.
A Comunidade Valenciana solicita, assim, que se mobilizem agora as Forças Armadas “em toda a sua extensão”.
“Uma vez que conseguimos assegurar todos os pontos logísticos, garantir o acesso rodoviário por todas as vias e organizar a distribuição de voluntários, é agora seguro pedir mais 5.000 militares”, afirmou o presidente do governo autonómico, citado num comunicado.
O governo regional pede, assim, mais 5.000 militares para o terreno para resgates, remoção de escombros e distribuição de água, alimentos ou medicamentos, entre outros apoios às populações das zonas afetadas pelas cheias.
Os meios do Estado espanhol nas zonas afetadas pelo temporal, em especial na Comunidade Valenciana, no leste do país, incluem ainda mais de 4.500 elementos das forças de segurança nacionais (polícia e Guarda Civil).
25 milhões para reconstruir estradas
O Governo espanhol avançou com “uma primeira dotação orçamental” de 24,8 milhões de euros (ME) para começar a reconstruir as estradas afetadas pelo mau tempo e as inundações na Comunidade Valenciana, sobretudo nas províncias de Valência e Cuenca.
Durante a madrugada desta sexta-feira, as autoridades de Valência restringiram a circulação de veículos nas zonas mais afetadas pelas cheias, limitando-a aos serviços essenciais e às empresas responsáveis por garantir o fornecimento de serviços básicos.
A solidariedade das populações com os mais atingidos pelo temporal de terça-feira à noite atingiu tal dimensão na sexta-feira, um dia de feriado em Espanha, que as autoridades apelaram ao regresso a casa dos voluntários ou a que, pelo menos, não se deslocassem de carro, por estarem a impedir o acesso dos meios de emergência e assistência da polícia, das Forças Armadas e dos serviços de saúde.
A Comunidade Valenciana acabou, ao final do dia de sexta-feira, por avançar com a criação de um centro de coordenação na cidade de Valência para gerir as multidões de voluntários.
O executivo pediu aos voluntários para a partir das 07:00 deste sábado se dirigirem à Cidade das Artes e das Ciências de Valência, onde está a funcionar desde essa hora um centro de voluntariado e a partir de onde estão a ser organizados e orientados grupos para as tarefas e locais necessários.
ONU pede ação para “salvar vidas”
A agência meteorológica das Nações Unidas apelou à comunidade internacional para dar “prioridade máxima” a “salvar vidas” na luta contra as alterações climáticas, depois das “chuvas recorde e inundações repentinas mortais que atingiram Espanha”.
“As inundações que estamos a ver em Espanha são apenas um dos muitos, muitos, muitos desastres climáticos extremos e relacionados com a água que ocorreram em todo o mundo este ano”, lamentou a porta-voz da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
“Quase todas as semanas vemos imagens chocantes“, acrescentou Clare Nullis, em declarações à imprensa a partir de Genebra, na sexta-feira.
A representante da agência recordou que “algumas zonas receberam mais do que o equivalente a um ano de chuva no espaço de oito horas”.
Nullis insistiu na importância dos mecanismos de alerta precoce, promovidos em 2022 pelo secretário-geral da ONU, o português António Guterres, para que “todos na Terra estejam protegidos de eventos climáticos, hídricos ou perigosos”.
A porta-voz disse que “os eventos climáticos extremos (…) tornaram-se mais prováveis e mais graves devido às alterações climáticas antropogénicas”.
Tal como está a acontecer agora em Espanha – outras áreas da Europa Central sofreram “muitas chuvas intensas, que bateram recordes locais e nacionais”, acrescentou Nullis.
A OMM alertou que “cada fracção adicional de aquecimento (…) aumenta o risco de precipitação extrema e inundações” e insistiu que “o mundo deve agir agora”, garantindo que “os alertas precoces conduzem a uma acção precoce e informada”.
ZAP // Lusa