Champalimaud testa “cogumelos mágicos” em doentes paliativos

Prestigiada fundação faz parte de um consórcio de 19 parceiros europeus na vanguarda de um inovador projeto que vai, ao longo de quatro anos, estudar o impacto da psilocibina em pacientes com doenças incuráveis.

O estudo clínico sobre psicadélicos na União Europeia (UE) acaba de dar um grande passo, após o financiamento de um projeto focado na utilização da psilocibina, uma substância encontrada em cogumelos alucinogénicos, no tratamento do sofrimento psicológico associado a doenças incuráveis, avança o Público esta quinta-feira.

Com um orçamento de 6,5 milhões de euros e um consórcio de 19 parceiros por toda a Europa — incluindo a portuguesa prestigiada Fundação Champalimaud — o inovador projeto abre um novo capítulo na aceitação de tratamento com recurso a psicadélicos, área que tem ganhado atenção nos últimos anos, nomeadamente no capítulo psicológico.

O projeto, que decorrerá ao longo de quatro anos, tem como objetivo estudar o impacto da psilocibina em pacientes com diversas doenças incuráveis. Além de Portugal, outros países europeus participarão com foco em diferentes doenças.

Os Países Baixos estudarão pacientes com doença pulmonar obstrutiva crónica, a República Checa focar-se-á na esclerose múltipla e a Dinamarca investigará a doença lateral amiotrófica.

A Portugal coube o estudo em pacientes com doença de Parkinson ou parkinsonismos atípicos, condições que apresentam sintomas similares mas que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

O papel da Fundação Champalimaud, um dos centros clínicos participantes, é fundamental neste consórcio. Com um financiamento de aproximadamente meio milhão de euros, a fundação conduzirá investigações sobre os efeitos da psilocibina na depressão em pessoas com doenças do movimento, focando-se na mitigação do sofrimento psicológico nestes pacientes e explorando novos caminhos para o tratamento de condições debilitantes.

Cada centro clínico do consórcio será responsável por recrutar cerca de 25 pacientes, num total de 100 participantes a nível europeu. Estes pacientes serão submetidos a até dez sessões de tratamento, que incluem três sessões de preparação, duas sessões onde tomarão a substância e até cinco sessões de avaliação e discussão.

Importante frisar que o consumo da psilocibina não será feito através de cogumelos, mas sim na forma de cápsulas, desenvolvidas especificamente para o estudo — uma abordagem farmacêutica que garante um controlo mais preciso das dosagens e uma maior segurança no tratamento.

Os resultados são esperados para 2027. Até lá, as várias fases do estudo envolverão o recrutamento de pacientes, a aplicação das sessões de tratamento num ambiente controlado e seguro, e um acompanhamento posterior para avaliar a eficácia e a segurança da terapia.

A expectativa é que os benefícios do tratamento possam ser prolongados, mas também está em aberto a possibilidade de ajustar o processo, incluindo a administração de doses adicionais de psilocibina, caso seja necessário.

Apesar do crescente interesse, a ciência ainda procura respostas sobre o impacto real e a melhor forma de aplicar estas terapias. O estudo em curso procura preencher estas lacunas, ao explorar novas possibilidades de tratamento para pacientes em situações de grande fragilidade.

O interesse no uso terapêutico da psilocibina não é novo. A substância já foi explorada em estudos com pacientes oncológicos em estágios avançados da doença. Estudos iniciais mostraram resultados promissores no campo da saúde mental.

ZAP //

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