O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, espera que a economia portuguesa volte aos níveis anteriores à crise pandémica em 2022. Além disso, conta que a resposta a uma possível terceira vaga de covid-19, após o Natal, seja mais positiva.
“É expectável que se uma terceira vaga suceder, toda esta aprendizagem, e num contexto em que já há vacinação, se possa esperar um efeito muito mais contido na economia”, destacou Mário Centeno na conferência de imprensa de apresentação do Boletim Económico do BdP.
O BdP manteve as previsões para a economia portuguesa em 2020, antecipando uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 8,1%. Para 2021 espera um crescimento económico de 3,9%.
“Nós não divulgamos projecções trimestrais, mas temos uma recuperação gradual claramente mais a partir do segundo trimestre, da economia, em 2021, sendo que o que aqui está subjacente é precisamente alguma manutenção de medidas de contenção no primeiro trimestre de 2021 e depois, então, um retomar da actividade económica com mais intensidade a partir e incluindo o segundo trimestre” de 2021, acrescentou o governador.
Durante a apresentação do Boletim Económico, Centeno adiantou que o Banco de Portugal espera uma queda do PIB de 1,8%, em cadeia, no quarto trimestre deste ano, algo que terá efeitos no arranque do próximo ano.
Deste modo, “o efeito de arrastamento para 2021 não é totalmente favorável, neste momento”, quando comparado com previsões anteriores, em particular com as de Outubro, alertou ainda Centeno.
“Tínhamos o mesmo número para o ano [de 2020, que é de -8,1%], mas com uma composição trimestral bastante diversa, com menos crescimento no terceiro trimestre e mais crescimento no quarto trimestre”, disse ainda o antigo ministro das Finanças.
Desta forma, e mesmo face ao crescimento previsto para 2022 (4,5%), “a taxa de crescimento para 2021 está muito afectada pelo mau ponto de partida originado no quarto trimestre de 2020”, destacou Centeno, considerando que “é um pouco enganadora para a dinâmica que, trimestre após trimestre, se irá consubstanciando em Portugal”.
Mais de 3 anos para recuperar emprego destruído pela pandemia
O boletim do BdP prevê uma queda no emprego de 2,3% neste ano, o que constitui “o pior registo desde 2013” nos tempos da Troika, estando em causa menos 114 mil postos de trabalho, conforme contas do DN/Dinheiro Vivo.
A publicação atesta que “o mercado de trabalho português parece ser, cada vez mais, o elo mais fraco da retoma pós-pandemia”, considerando que serão necessários “mais três anos, no mínimo”, para que Portugal consiga recuperar os empregos perdidos durante este ano, devido à pandemia.
A taxa de desemprego deverá situar-se em 7,2% em 2020, subindo para 8,8% em 2021. Em 2022, o valor situar-se-á na ordem dos 8,1%.
Por outro lado, o rendimento disponível das famílias deverá manter-se intacto até 2023, de acordo com o boletim do BdP.
“As contribuições para a Segurança Social estão a aumentar e a cobrança do IRS não mostra quebras”, apontou Centeno na conferência de imprensa, vincando a importância de manter os impostos em baixa em 2021.
O governador também realçou que o Governo não deve retirar os apoios à economia, designadamente os lay-offs e moratórias, “sem que previamente haja uma análise sobre as condições das empresas e das famílias”.
SV // Lusa