Há um cemitério no Brasil que é a casa de 50 sem-abrigo

No cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo, vivem cerca de 50 sem-abrigo. Vivem no meio de 21 mil sepulturas, em barracas ali construídas há anos.

Entre os sem-abrigo há homens, mulheres, idosos e travestis, mas não crianças. Os moradores afirmam que os mais novos não podem ali viver, dado que o ambiente é desadequado e por não quererem que cresçam no meio da droga que consomem.

Naquele espaço vivem cerca de 50 sem-abrigo, em barracas erguidas por bambus e tapadas por lonas, com casas de banho que ficam no meio de um paredão onde se colocam os ossos dos mortos, conta o Expresso, citando uma reportagem da BBC.

Mas o cenário piora quando as condições meteorológicas não ajudam. Quando chove, aquela comunidade abriga-se dentro dos túmulos para não se molharem.

Lúcio (nome fictício dado pela BBC) tem uma filha de oito anos. Ele mora naquele sítio, mas a filha não. “As saudades são muitas”, confessa. Sem trabalho e sem casamento, Lúcio não conseguiu pagar o aluguer de uma casa para viver com a filha, depois de ter deixado a cidade de Belo Horizonte para trabalhar como vendedor (como esperava) no centro de São Paulo.

“Sem trabalho, não consegui pagar o aluguer de uma casa e fui morar com a minha mãe aqui perto. Não correu bem porque ela impunha demasiadas regras. Fui para a rua e tornei-me num vendedor ambulante. Vivo aqui há cinco meses“, disse à BBC.

Mas o cemitério já é a casa de Igor (nome fictício) há 12 anos. Ao jornal, confessou que a primeira vez que fumou crack foi em 1993 e que, mesmo consumindo com frequência, trabalhava em várias empresas na área da comunicação visual. No entanto, a droga acabou por lhe mudar a vida: “Fui preso por tráfico de drogas, vandalismo, atropelamento e corrupção de menores. A minha família não quer saber mais de mim.”

Quem visita o cemitério da Vila Nova Cachoeirinha não se aproxima dos moradores. Mas estes, como se de um instinto de sobrevivência se tratasse, aproximam-se dos visitantes e tentam conseguir dinheiro em troca da limpeza do túmulos. Ainda assim, são poucos os que se aproximam.

A Câmara de São Paulo, contactada pela BBC, diz ter conhecimento das casas dentro do cemitério e afirma ter pedido a reintegração de posse à Justiça em 2016.

“A pedido da Justiça, foi realizada audiência de conciliação em que os ocupantes do local concordaram em sair voluntariamente da área até janeiro de 2018, o que não foi cumprido. Já foi solicitada nova expedição de reintegração de posse”, informou.

A Câmara é acusada pelos moradores de não querer saber das condições em que vivem: “Eles não nos ajudam, só vêm para derrubar as nossas casas”, denunciam.

Também a capela do cemitério serve de abrigo para outros mendigos, por se encontrar fechada após uma reforma que durou cinco anos. A administração do cemitério adiantou ainda que existem três salas de velório, mas não explicou por que motivo estão também encerradas.

ZAP //

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