Uma nova investigação levada a cabo pelo Princess Margaret Cancer Centre, no Canadá, sugere que as células cancerígenas são capazes de entrar num estado de divisão lento, numa espécie de dormência, para sobreviver a ambientes hostis, como é o caso dos tratamentos de quimioterapia.
Em comunicado, a equipa explica que em causa está um mecanismo que envolve todas as células cancerígenas e que tem por base um mecanismo de sobrevivência evolutivo antigo.
A equipa descobriu que, quando face a uma ameaça, todas as células cancerígenas têm a capacidade de fazer uma transição para um estado protetor, onde as células conseguem descansar até que a ameaça, ou a quimioterapia, desapareça.
“O tumor está a agir como um organismo inteiro, capaz de entrar num estado de divisão lenta, conservando energia para ajudá-lo a sobreviver. Existem exemplos de animais que entram num estado reversível e de divisão lenta para resistir a ambientes agressivos”, explicou o professor associado do Departamento de Cirurgia da Universidade de Toronto, O’Brien, que é também co-autor da nova investigação.
“Parece que as células cancerígenas cooperam engenhosamente este mesmo estado para o seu próprio benefício de sobrevivência”, sustentou.
De acordo com a nova investigação, cujos resultados foram recentemente publicados na revista científica Cell, este é o primeiro estudo a identificar células cancerígenas a roubar um mecanismo evolutivo antigo para sobreviver à quimioterapia.
Os cientistas mostraram também nesta investigação que as novas estratégias terapêuticas destinadas a atingir especificamente células cancerígenas neste estado de “dormência” podem prevenir o crescimento do cancro.
São como ursos em hibernação
Na prática, a nova investigação mostra que estas células tem a capacidade de hibernar, tal como os ursos no inverno, sintetizou o diretor e cientista sénior do Princess Margaret Cancer Centre, Aaron Schimmer, que também esteve envolvido no estudo.
“Na verdade, nunca soubemos que as células cancerígenas eram como os ursos em hibernação. Este estudo mostra como direcionar estes ursos adormecidos para que não hibernem e acordem mais tarde de forma inesperada”, afirmou.
“Acredito que este mecanismo será uma causa importante no que respeita à resistência a medicamentos e explicará algo sobre o qual não tínhamos ainda um bom conhecimento”.
Os cientistas do instituto canadiano batizaram estas células dormentes de células “persistentes e tolerantes a drogas” (DTPs), e novo estudo mostrou que todas as células cancerígenas têm a capacidade de ser tornarem DTPs.
O’Brien enfatiza ainda que a descoberta abre caminhos para novos tratamentos.
“Dá-nos uma oportunidade terapêutica única (…) Precisamos ter como alvo as células cancerígenas enquanto estas estão neste estado de ciclo lento e vulnerável antes de adquirirem as mutações genéticas que impulsionam a resistência aos fármacos. É uma nova forma de pensar sobre a resistência à quimioterapia e como superá-la”, rematou.