“Nesta madrugada viramos estatística novamente”, lamentou Bruno, que depois da agressão que ocorreu este sábado, no Cais de Gaia, procurar “um lugar mais seguro”. A polícia, segundo o brasileiro, tentou “inverter a situação”.
Um casal de brasileiros chegou a Portugal há pouco mais de dois meses com a intenção de se estabelecer na cidade do Porto, mas na madrugada de sábado passado viu os seus planos azedarem às mãos de um grupo de jovens.
Bruno Marcelino e Kaique Soares, que vieram do Brasil com o objetivo de criar uma empresa, já tinham a documentação necessária para assentarem na cidade Invicta, mas desistiram do projeto após serem violentamente agredidos por dez jovens que os abordaram no Cais de Gaia, a 30 de dezembro, pelas 03h20.
Bruno, que veio para o país pelo programa StartUP Visa para abrir uma empresa com o apoio do Governo português, conta ao ZAP que o casal abandonava uma festa e caminhava em direção à ponte quando foi abordado pelo grupo de jovens portugueses, que pediu 10 euros. Rapidamente começaram a receber pontapés e socos quando disseram que não tinham o dinheiro pedido.
“Passámos por eles de mãos dadas e eles olharam para as nossas mãos e abordaram-nos. Tomaram partido disso para nos questionar”, confessa Bruno, na ideia de que os 10 euros foram nada mais do que um pretexto para assediar os dois, uma vez que o grupo acabou por não roubar nada.
“Quando dissemos que não tínhamos [os 10 euros] eles não nos tentaram roubar, essa é a questão. Não tentaram pegar no telemóvel, na carteira, nada disso”, sublinha, admitindo que os seus bens estavam espalhados pelo chão e que, mesmo assim, o grupo não levou nada, o que o leva a crer que não houve um motivo além de um dos três seguintes: xenofobia, racismo ou homofobia.
“Só pararam quando um deles pediu para parar”, recorda: “foi o tempo que tivemos para levantar e correr, eles tentaram correr atrás de novo só que conseguimos distanciar-nos e esconder-nos.”
“Nesta madrugada virámos estatística novamente”, começou por desabafar no Instagram o brasileiro de 31 anos, no dia do ocorrido. “Tentamos correr, mas me alcançaram, me derrubaram e deram chutes e socos na minha cabeça“, escreveu na rede social, onde partilhou o que as agressões fizeram à sua cara e à do seu companheiro e cozinheiro de 23 anos, Kaique, que “ao ver a cena, tentou voltar e foi recebido com muitos socos no rosto.”
View this post on Instagram
“Acreditamos que tudo foi motivado por xenofobia, homofobia e racismo, que está cada vez mais evidente aqui em Portugal”, disse Bruno, que também se queixou da ação da polícia.
Polícia tentou “inverter a situação”
“Chamamos a polícia, que demorou a vir e quando vieram tentaram inverter a situação, queriam deixar os jovens ir embora. No final, não sabemos se foram ou não encaminhados para a delegacia, já que os policiais não nos deram nenhum comprovativo da ocorrência“, escreveu Bruno.
Com parte do grupo ainda presente junto ao casal, os agentes chamados ao local só agiram quando Bruno e Kaique “começaram a falar mais alto”, porque senão, teme Bruno, “não iam atrás” dos suspeitos.
O membro do casal agredido — que sublinha que o casal nem sequer foi roubado, apenas espancado — afirma ainda que a Polícia de Segurança Pública (PSP), após a denúncia formal da ocorrência, “negou acesso ao inquérito e não ofereceu uma cópia do boletim de ocorrência” — declararam apenas, segundo o brasileiro, “crime contra a propriedade”, sem qualquer registo de xenofobia, homofobia ou racismo.
O casal, que recebeu assistência no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, confirmou que vai desistir dos planos para fazer a sua vida no Porto e optou por se mudar para um local mais seguro: “há cada vez mais agressões a brasileiros em Portugal”, dizem, citados pelo Jornal de Notícias.
“Fomos para o hospital, nada de muito grave foi detetado, apenas os ferimentos superficiais no rosto, principalmente no olho e boca e no nariz do Kaique”, explicou Bruno, garantindo que o casal “não deixará passar” impune a agressão e a falta de justiça.
Depois de serem assistidos, os agentes da PSP “não disseram mais nada. Esperamos pelo contacto [durante três dias]”, diz, até que se fartou e foi a duas esquadras, onde ficaram a saber que foi apenas registada a queixa por “crime contra a propriedade”.
“Não deixaremos passar, vamos atrás das gravações do local e iremos mover todas as forças para que estes não causem mais mal para ninguém, principalmente por motivações de ódio“, garantiu Bruno.
“Eu podia ter morrido, nós poderíamos ter morrido, então decidimos ir para um lugar mais seguro”, confessa, admitindo que “nem no Brasil, um país claramente inseguro na questão da segurança pública, fomos atacados dessa forma”.
É assim Portugal, apenas igual ao que sempre foi. O país mais atrasado da Europa e o mais selvagem de todas as Áfricas (a frase não é minha).
Snr. Pedro, cada um vê com os olhos com que nasceu, atão pois!
Já pensou trocar este país tão atrasado por outro mais “adiantado” ?
Quiçá o Brasil, de onde tem fugido tanta gente boa e séria, que afirma ter encobtrado em Portugal o paraíso das suas vidas?
Lucinda, uma coisa não justifica a outra. Não são todas as pessoas que passam por situações negativas e que põe em causa a sua integridade e os seus direitos, felizmente, mas situações destas jamais devem ser toleradas e minimizadas, seja com quem for. É natural que alguém que se veja vítima de qualquer espécie de violência ou criminalidade não vai ficar com uma boa imagem do local e das suas gentes onde estes actos ocorrerem, e principalmente se as autoridades competentes agiram incompetentemente e negarem-se a fazerem o seu trabalho. Acho muito bem e legítimo que estas e todas as pessoas que passam por situações negativas procurem e movam todos os meios para encontrarem a justiça a que têm direito e que lhes foi negada.
Sérgio,
“para a mentira ser segura
e atingir profundidade,
deve trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade. ”
cito
Esta história carece de contraditório.
(Há muita “má vontade” quando se cospe no prato.)
Obviamente que eventos destes são deploráveis e condenáveis, e as meias verdades também.
Fui educada a nunca dispensar, no mínimo duas versões quando analiso, três se arrisco ajuizar.
Neste exaustivo relato só encontro uma versão, acrescida de um churrilho de abusivos juízos de valor sobre o meu país.
Considero pertinente que recorram à justiça.
Também esoerneavave tentava calar, quando alguém dizia algo que não coincidia com a perspetiva dos meus interesses, mas isso foi no tempo em que eu era catraia… Claro!
Sérgio, concordo com o que refere e também considero pertinente o recurso à justiça por parte dos queixosos, sob pena de este assunto poder permanecer nubloso.
Não deixar cair estas questões no esquecimento e denunciar sempre e se necessário recorrer às associações para ajuda inclusive Ministério Público. Não esquecer também q o Brasil tem o recorde de mortes LGBTI no mundo. Em Portugal não eassim mas tem q haver ações contra os energumenos que espancam, roubam e matam. As forças de segurança e a justiça têm q fazer a sua parte