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Terror em Oviedo: polícia resgata 3 crianças presas em casa pelos pais desde o início da pandemia em condições desumanas

PACO PAREDES/EPA

Carro da polícia com suspeito de negligência infantil chega ao Tribunal Provincial de Oviedo-

“Casa de horrores” pintada de cor-de-rosa: crianças de 8 a 10 anos de fralda, com dificuldades motoras, a ser tratadas como bebés pelos pais. “Respiravam como se nunca o tivessem feito antes na vida”, quando foram resgatadas.

Uma casa cor-de-rosa abrigou anos muito cinzentos num pequeno bairro espanhol de Oviedo, no norte de Espanha, onde três crianças viveram desde 2021 em condições completamente desumanas, num caso que está a chocar a comunidade espanhola.

Os dois gémeos, de oito anos, e um irmão mais velho, com 10 anos, viviam completamente isolados do mundo exterior desde o início da pandemia da Covid-19, naquela casa da aldeia de Fitoria.

A polícia local só descobriu o cenário macabro devido a uma denúncia de uma vizinha, que ouviu gritos na casa que, por falta de movimento, parecia quase sempre inabitada.

A “casa de horrores”

Após duas semanas de investigação e vigilância a partir da casa da vizinha, os agentes da polícia local de Oviedo viram sair à rua o pai da família, que lhes deu permissão para entrar na propriedade, onde os polícias encontraram o que descreveram mais tarde como uma “casa dos horrores”.

As crianças, assustadas e agarradas à mãe, apresentavam sinais evidentes de abandono e de não terem usufruído de ar livre durante anos.

Os pais puseram-lhes logo máscaras quando os agentes entraram. As três usavam fraldas e mostravam dificuldades motoras. Estavam a ser tratadas como bebés, sem os estímulos adequados à idade. Prova disso é também o facto de dormirem em berços, onde foram encontrados desenhos de monstros, rostos assustados e uma caveira, já sob análise de psicólogos infantis.

A mãe, também ela com ar de “alívio”, procurou justificar-se dizendo que as três sofriam de distúrbios de atenção e que estavam doentes, embora as crianças não apresentassem sintomas aparentes de doença física.

“As crianças tinham dificuldades motoras, usavam fraldas, e a mãe, que era quem falava naquele momento, mostrou alguns relatórios médicos alemães das crianças, nos quais dizia que elas tinham sido diagnosticadas com défice de atenção”, explicou fonte próxima da investigação ao El País esta quinta-feira.

A mãe admitiu ainda que  “acompanhava as crianças constantemente à casa de banho para fazerem xixi, segurando-lhes o pénis, como se fossem bebés“, uma vez que as três não controlariam os esfíncteres.

Na casa, a polícia deparou-se com enormes quantidades de lixo debaixo das escadas, dezenas de frascos de vaselina e medicamentos comprados supostamente pela Internet. Não havia televisões, aparelhos eletrónicos nem brinquedos. Os sapatos que as crianças usavam eram de tamanhos muito inferiores aos correspondentes à sua idade. “Eram do tamanho que usavam há quatro anos, quando chegaram” a Espanha, disse a mesma fonte ao jornal espanhol.

Quando as crianças saíram com os agentes até ao jardim, ficaram comovidas. “Tocavam na relva, respiravam como se nunca o tivessem feito antes na vida, viram um caracol e ficaram completamente fascinados”, contou um agente da polícia local.

O que se sabe sobre os pais

Os pais —  Christian Steffen, cidadão alemão de 53 anos, e Melissa Ann Steffen, de nacionalidade americana e alemã — chegaram a Espanha em 2021, na altura do confinamento, depois de não terem conseguido autorização para educar as crianças em casa na Alemanha.

Pouco mais se sabe sobre os dois. A mãe é praticamente invisível na Internet; o pai surge com o endereço da casa como “doutor” ligado a uma empresa de comércio marítimo online, que terá sido criada já em tempos de pandemia.

Estiveram este tempo todo completamente isolados naquela casa, sem que nenhum vizinho — nem mesmo a irmã do presidente da câmara que vivia numa casa adjacente — suspeitasse do que se passava no interior da propriedade, que tinha as janelas sempre fechadas.

Os dois progenitores foram colocados em prisão preventiva e recusaram-se a prestar declarações após a detenção. São suspeitos de crimes de abandono de menores e detenção ilegal.

Até ao momento, nenhum familiar reclamou a tutela dos menores. A investigação continua sob a direção da Guarda Civil. Entretanto, as crianças foram transferidas para um centro de menores do Principado após a retirada da guarda dos pais. “Estão alucinadas com a televisão”, apurou o El País.

Tomás Guimarães, ZAP //

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