“O meu barraco”. É assim que o dono de uma casa na favela Aglomerado da Serra, nos arredores de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, se refere à habitação que acaba de ganhar um concurso internacional de arquitectura.
Conhecida como “casa do pomar do cafezal“, o imóvel venceu o concurso internacional organizado pelo Archdaily, portal de arquitectura global, na categoria “casa”.
O portal divulgou, nesta sexta-feira, os 15 melhores projectos vencedores em 2023. E entre eles está a pequena habitação que foi construída numa viela íngreme no Aglomerado da Serra, nos arredores de Belo Horizonte, capital do estado brasileiro de Minas Gerais.
Este projecto na maior favela de Minas Gerais representa “um modelo construtivo que utiliza materiais próprios da periferia, com uma implantação adequada e atenção à iluminação e ventilação, resultando num espaço com grande qualidade ambiental“, sustenta o Archdaily.
Casa foi projectada por colectivo de voluntários
A casa foi idealizada pelo Colectivo Levante, um movimento que junta arquitecto, engenheiros e outros profissionais que intervêem, de forma voluntária, na periferia das cidades brasileiras.
A atenção aos detalhes marca a construção, como explicava, no início deste mês, o arquitecto Fernando Maculan, um dos que esteve envolvido no projecto, em declarações ao “Jornal da Band” do canal Rede Bandeirantes.
Maculan destacava, em particular, “soluções de ventilação cruzada”, mas também a preocupação em “trazer a luz natural para todos os espaços“.
Foi preciso “aprender com o lugar e com as relações de vizinhança“, referia também o arquitecto.
A casa foi construída com os mesmos materiais com que foram construídas as outras casas deste gigantesco complexo de favelas, que abriga cerca de 100 mil habitantes.
A fachada de tijolo da habitação e cimento não é pintada, as tubagens de água são externas, assim como as ligações eléctricas, e as suas janelas são de ferro, como as das casas vizinhas.
É uma casa que pode ter um custo muito parecido com as demais da favela, mas a diferença está na forma como os elementos foram utilizados, com especificações de projecto e técnicas construtivas que permitiram a criação de um espaço eficiente e com qualidade ambiental.
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Foram as fotos da casa que estavam numa conta de Fernando Maculan numa rede social que chamaram a atenção do Archdaily para o projecto. Primeiramente, o portal apenas publicou referências à casa no site, mas depois seleccionou-o para o concurso.
A casa tem uma área de 66 metros quadrados e dois níveis, ficando sobre uma forte estrutura cujas fundações também ajudam a sustentar outras casas no beco.
As suas paredes foram construídas com tijolos vazados usados na horizontal, uma mudança subtil que virou a fachada de cabeça para baixo e trouxe vantagens adicionais.
Algo semelhante é visto com o desenho de janelas e portas, que além de permitir a entrada de luz natural e dar mais luminosidade ao ambiente, geram ventilação cruzada que arrefece o ambiente.
Já as tubagens externas de água ajudam a evitar vazamentos.
Centro de Eventos Convento do Beato vence no uso de produtos
Na lista dos vencedores da ArchDaily de 2023 figuram ainda dois outros projectos do Brasil: o Pavilhão do Brasil na Expo Dubai 2020, do MMBB Arquitetos, e um projecto do gabinete Gustavo Penna Arquiteto e Associados destacado na categoria “Arquitectura Industrial”.
Já o Centro de Eventos Convento do Beato, em Lisboa, venceu na categoria de melhor uso de produtos.
Este projecto português foi desenvolvido pela Risco para o Beato Lux e contempla a remodelação do Centro de Eventos e a reabilitação e remodelação dos restantes edifícios do complexo para novas utilizações, nomeadamente serviços na antiga igreja e habitação nos antigos edifícios industriais, em Lisboa.
Segundo o Archdaily, o projecto inclui ainda a construção de dois parques de estacionamento, um acima do solo e outro subterrâneo, e vários espaços exteriores. As obras começaram em 2018 e têm conclusão total prevista para 2024.
ZAP // Lusa