O próximo ano letivo conta com quase 63 mil candidatos ao ensino superior, o número mais elevado em mais de duas décadas, situação que pode ser explicada, em parte, pela diminuição do emprego, motivada pela crise da covid-19.
“O impacto da crise já se está a fazer sentir no emprego. No imediato, há menos oferta para os jovens, fazendo com que os estudantes e as famílias decidam protelar a entrada no mercado de trabalho para um momento em que ele possa estar mais favorável”, explicou o sociólogo Elísio Estanque, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Segundo noticiou esta terça-feira o Público, análises ao longo do tempo de economistas e sociólogos revelam que, em períodos de retração do mercado de trabalho, há um aumento da procura formação, porque o custo para estudar é mais baixo. Já em períodos de expansão, acontece o inverso.
A 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior público encerrou na noite de domingo com 62.675 candidatos, um crescimento de 11.384 face a 2019 (18%), sendo o número mais elevado de candidatos desde 1996. O número de candidatos é também muito superior ao das 51.408 vagas disponíveis.
Este é um “aumento inédito” e que “promove o alargamento da base social do ensino superior”, indicou em comunicado o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Para o diretor do Centro de Investigação em Políticas do Ensino Superior (CIPES), Pedro Teixeira, apostar na formação num momento de crise é “uma boa altura para fazê-lo, não só para os jovens como para a requalificação de quem já está no mercado de trabalho”, aconselhando, contudo, “alguma cautela” na leitura dos números, visto que o total de candidaturas está condicionado pelo que designa de “efeito ilusório” dos resultados dos exames nacionais, em que as notas máximas quase duplicaram face ao ano anterior.
De acordo com o Público, as estatísticas mostram que os alunos que entram nas duas primeiras opções do concurso nacional de acesso têm taxas de conclusão muito superiores aos restantes. Entre os que entram nas 5.ª e 6.ª opções, só cerca de 40% completam o curso em que entraram.
Elísio Estanque indicou que, para antecipar as dificuldades, serão necessários “mecanismos que possam superar as dificuldades de muitas famílias e muitos jovens”, reforçando os apoios sociais aos estudantes.