A empresa ferroviária nacional holandesa vai pagar milhões em indemnizações por ter transportado judeus do país que acabaram em campos de extermínio durante a ocupação nazi. Dos 140 mil judeus que havia no país, uns setenta por cento foram mortos, a taxa mais elevada de qualquer país ocupado pelos nazis.
De acordo com o Expresso, num artigo divulgado na quinta-feira, o NS deu uma contribuição decisiva, pois levava, a troco de pagamento (no total, o equivalente a 2,5 milhões de euros atuais), os presos para Westerbork, um campo de trânsito de onde seguiam para lugares como Auschwitz e Sobibor.
Já em 2005, o NS tinha reconhecido o seu papel e pedido desculpa, mas negou-se a pagar indemnizações. A iniciativa de obrigar a empresa ferroviária nacional partiu de Salo Muller, um antigo fisioterapeuta do clube de futebol Ajax, cujos pais foram mortos em Auschwitz quando este tinha cinco anos.
O que o inspirou foi o exemplo da SNCF, a empresa de caminhos-de-ferro francesa, que há anos se viu forçada a criar um fundo de 60 milhões de euros por razões semelhantes.
Um representante do Memorial Nacional de Westerbork, Dirk Mulder, foi o ano passado à televisão explicar o que estava em causa: “O NS cumpriu a ordem alemã de disponibilizar os comboios. Os alemães pagaram e disseram que o NS tinha de estabelecer um horário. E a empresa fez isso sem uma palavra de objeção”.
Cedendo à pressão, o NS estabeleceu uma comissão para estudar o assunto. Embora reconhecendo que nenhuma indemnização compensará o sofrimento infligido às vítimas, a comissão fixou valores: 15 mil euros para cada sobrevivente, entre cinco e sete mil euros para os descendentes, dependendo de terem nascido antes ou depois da guerra.
“Estima-se que vários milhares de pessoas sejam elegíveis para o pagamento, incluindo uns estimados 500 sobreviventes”, declarou a empresa. “O NS vai destinar várias dezenas de milhões de euros para isto nos próximos anos”. Insuficiente como é, constitui o princípio de uma resposta àquilo que o NS vê como “uma página negra na história da companhia”.
Salo Muller concluiu sobre o assunto: “Foi duro e infelizmente nem toda a gente está satisfeita. Mas é o que é”.