Câmaras automáticas revelam comunidade não contactada na Amazónia

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Funai

Uma das imagens inéditas do povo isolado de Massaco, tirada em 17 de fevereiro de 2024, enquanto eles recolhiam facões e machados deixados pelos agentes da Funai

Câmaras automáticas instaladas na floresta tropical brasileira captaram imagens do povo Massaco — uma comunidade não contactada que está a prosperar na Amazónia, apesar das ameaças ambientais, e cujo verdadeiro nome é desconhecido.

Imagens notáveis captadas por câmaras automáticas instaladas na floresta tropical brasileira pela Funai  — Fundação Nacional do Índio, revelam uma comunidade isolada que parece estar a prosperar apesar da pressão dos fazendeiros e da invasão ilegal da Amazónia.

As imagens, de um grupo de homens, oferecem ao mundo exterior o seu primeiro vislumbre da comunidade – e dão mais provas de que a população está a crescer.

O grupo é conhecido como Massaco, em homenagem ao rio que atravessa as suas terras, mas ninguém sabe como se chamam, enquanto a sua língua, tecido social e crenças permanecem um mistério.

Segundo dados da Funai, que trabalha há décadas para proteger o território, apesar da pressão implacável do agronegócio, dos madeireiros, garimpeiros e traficantes de drogas, a população Massaco pelo menos duplicou desde os anos 1990, para cerca de 200 a 250 pessoas.

A Funai colocou as câmaras num local onde deixa periodicamente utensílios de metal, prática usada para dissuadir povos não contactados de se aventurarem em fazendas ou acampamentos de madeireiros para apanhar ferramentas — como aconteceu no passado com consequências trágicas, nota o The Guardian.

Fotos de assentamentos Massaco já tinham sido capturadas anteriormente durante expedições da Funai em áreas que, segundo imagens de satélite, estavam abandonadas.

Anos de observação indireta fizeram com que os Massaco ficassem conhecidos por caçarem com arcos de três metros de comprimento e por mudarem as suas aldeias de estação para estação dentro da floresta.

Os Massaco tentam desencorajar os forasteiros plantando no solo milhares de espigões que furam os pés e os pneus dos camiões e outros veículos que atravessam a região.

“Agora, com estas fotos tão detalhadas, é possível ver a semelhança dos Massaco com o povo Sirionó, que vive na margem oposta do rio Guaporé, na Bolívia”, diz Altair Algayer, guarda florestal da Funai que há mais de três décadas protege o território dos Massaco. “Mas ainda não podemos dizer quem são eles. Há muitas coisas que ainda são um mistério”.

“Recentemente, vimos mais cabanas de palha novas, então não me surpreenderia se houvesse 300 indivíduos“, diz Algayer, citado pelo Explorersweb.

Política de não contacto

Apesar da catástrofe demográfica das populações indígenas causada por séculos de ocupação não indígena e pelo agravamento da devastação ambiental, o crescimento populacional entre os povos isolados é uma tendência em toda a Amazónia.

Em 2023, um estudo publicado na Nature revelou dados sobre o crescimento populacional ao longo das fronteiras do Brasil com o Peru e a Venezuela. Imagens de satélite mostraram maiores parcelas cultivadas e mais povoações.

Os especialistas também encontraram evidências na floresta de um crescimento semelhante entre as comunidades nómadas que não plantam culturas ou constroem grandes estruturas visíveis do espaço.

Um desses grupos é o povo Kawahiva do Rio Pardo, que tem estado a ser monitorizado pela Funai. “Hoje, estimamos que sejam de 35 a 40 pessoas. Quando começámos a trabalhar aqui, em 1999, eram cerca de 20”, diz Jair Candor, investigador da Funai responsábel pela observação dos Kawahiva.

A reversão desta tendência global de perda cultural e de desaparecimento de línguas foi resultado de políticas públicas inovadoras de não iniciar contacto com estes povos, iniciada no Brasil em 1987.

Décadas de contactos com estes povos, promovidos pelo governo brasileiro, tinham resultado na morte de mais de 90% das pessoas contactadas, na maior parte dos casos por doença. Desde então, o Peru, a Colômbia, o Equador e a Bolívia adotaram versões desta abordagem de não contacto..

De acordo com um projeto de relatório do Grupo de Trabalho Internacional dos Povos Indígenas em Isolamento e Contacto Inicial, há 61 povos confirmados a viver na região da Amazónia e do Gran Chaco, e 128 ainda não verificados pelas autoridades.

ZAP //

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