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Café está a perder a resistência à ferrugem em todo o mundo

O café mundial está a perder rapidamente a sua resistência à doença da ferrugem e algumas espécies até aqui consideradas resistentes podem perder essa capacidade dentro de cinco a dez anos.

O alerta de especialistas é de que a resistência, que nas últimas décadas se tem baseado no “híbrido Timor”, pode estar a decair. Algumas variedades que há três décadas eram resistentes, como as Catimors e Sarchimors, estão a perder a resistência.

O aviso foi feito por Christophe Montagnon, diretor científico da World Coffee Research (WRC), uma das principais organizações de investigação sobre café, segundo notícias em publicações especializadas.

Montagnon deu conta das suas previsões na 27.ª conferência bienal da Associação de Ciência e Informação sobre o Café (ASIC), que decorreu em Portland, nos Estados Unidos da América.

O “híbrido Timor” é um híbrido natural, entre as espécies Coffea arabica e Coffea canephora, encontrado em Timor-Leste e que se tornou decisivo para os programas de combate à Hemileia vastatrix, responsável pela ferrugem alaranjada do cafeeiro.

Uma das regiões onde a situação está a causar mais preocupações é na América Latina, onde especialistas admitem que as previsões sobre a capacidade de resistência foram sobrestimadas, referem as mesmas publicações.

Especialistas dizem que a variedade de arábica Lempira, amplamente plantada nas Honduras, é uma das que no ano passado perdeu a sua resistência à ferrugem.

Produtores em todo o mundo têm estado nas últimas décadas a desenvolver várias técnicas de combate à doença da ferrugem, com uma epidemia de 2012 que afetou muitas das produções na América Latina a suscitar ações mais intensas, segundo a WRC.

As estimativas da organização é de que globalmente a ferrugem levou a reduções entre os 50 e os 80% nos volumes de produção, afetando significativamente várias comunidades agrícolas.

Em resposta foram plantadas variedades de café resistentes à ferrugem, em particular o “híbrido de Timor”, com aumentos de produção e expectativas de resultados idênticos aos anteriores.

A WCR destaca o facto de a base genética do “híbrido Timor”, que tem servido para combater a ferrugem, começar a dar sinais de redução de eficácia devido a um processo conhecido como ‘introgressão’ ou ‘hibridação introgressiva’.

A ‘introgressão’ é o movimento de um gene de uma espécie para o acervo genético de uma outra através de repetidos retrocruzamentos entre um híbrido e sua original geração progenitora. Montagnon nota que algumas variedades que há três décadas eram resistentes, como as Catimors e Sarchimors, estão a perder a resistência.

A solução, considera a WCR, pode passar por desenvolver e testar novos híbridos e promover estratégias que invistam na saúde da planta, como manutenção, conservação dos solos, nutrição e sombra.

Em 2012 investigadores da Universidade de Évora anunciaram que o original do “híbrido de Timor” tinha sido encontrado junto a uma aldeia timorense, “no meio de uma floresta de café não ordenada, sem qualquer proteção ou referência”.

Os clones do “híbrido de Timor” – variedade que tinha sido identificado nos anos 60 do século passado e que depois ficou “perdida” – permitiram criar variedades resistentes à doença da ferrugem.

“A planta é conhecida desde os anos 60, mas, no período da ocupação indonésia de Timor, perdeu-se todo esse conhecimento e referências”, disse na altura Pedro Nogueira, da Universidade de Évora, em declarações à Lusa.

A planta original foi redescoberta, graças a um projeto que envolveu os departamentos de Geociências e Economia da Universidade de Évora, a Universidade Nacional de Timor Lorosa’e e o Centro para a Investigação da Ferrugem do Café, em Lisboa.

A planta original do “híbrido de Timor” resulta do cruzamento da espécie arábica, com 44 cromossomas e não resistente à ferrugem, com a espécie robusta, com 22 cromossomas e resistente à doença. “Este cruzamento, improvável, pelo facto de a espécie arábica ter o dobro dos cromossomas da espécie robusta, aconteceu por um acaso da natureza em Timor-Leste”, explicou.

Após ter sido descoberta nos anos 60 do século XX, a planta foi clonada e as novas variedades que originou, resistentes “à principal doença do café“, frisou Pedro Nogueira, permitiram “a melhoria e, mesmo, a salvação de vastas plantações de café arábica em todo o mundo”.

// Lusa

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