Christina / Unsplash
![](https://zap.aeiou.pt/wp-content/uploads/2022/09/bf2d595c65f75b61e8166ab75aa18794-783x450.jpg)
Egocentrismo? Narcisismo? Porque é que atiramos bumerangues em forma de perguntas uns aos outros?
O fenómeno anda nas bocas dos psicólogos por recentemente ter adquirido um nome “oficial” graças a uma nova investigação — “boomerasking” é como lhe chamam.
Por cá, o cronista Miguel Esteves Cardoso, que bitaitou no Público sobre o conceito, chamou-lhe “bumerangariar“. Mas o que é este vaivém que tanto fazemos e que odiamos quando nos fazem a nós?
Trata-se de um hábito de conversação egocêntrico — ou narcisista “difícil”, como atira o cronista — que é idêntico ao ato de atirar um bumerangue. O autor dá um exemplo:
“Quando quero falar do Carnaval que vou passar em Veneza, atiro um bumerangue verbal à pessoa que quero impressionar e pergunto: ‘Então? Já sabes o que vais fazer no Carnaval?’. Quando ela responde com o tédio do costume, dizendo que ainda não sabe e que em princípio não vai fazer nada, eis que surge a minha grande oportunidade para contar a grande viagem a Veneza”.
Em Portugal até somos “mais toscos” a aplicar a técnica, nota Miguel Esteves Cardoso. “‘Tu não tens cão, pois não?’, perguntam-me sempre que querem passar um quarto de hora agradável a falar do cão”, exemplifica.
Um estudo recente, publicado em janeiro no Journal of Experimental Psychology: General, concentra-se neste ato que se resume, no fundo, a responder às próprias questões.
Os três irritantes tipos de “bumerangariar”
Os investigadores Alison Wood Brooks, da Harvard Business School, e Michael Yeomans, do Imperial College London, classificaram este comportamento em três tipos distintos e exploraram as suas implicações.
O “perguntar-gabar”
A primeira categoria é o “ask-bragging”, ou o “perguntar-gabar”. Ocorre quando uma pessoa faz uma pergunta apenas com o intuito de responder com um feito pessoal que quer partilhar por achar que vai ser tido como impressionante. Exemplifiquemos com uma conversa que certamente acontecerá algures neste planeta no próximo sábado, dia 15.
“Então, o que é que o teu namorado te ofereceu no Dia dos Namorados?”, ao que a amiga responde: “oh, fomos só jantar fora e mais nada” — e segue-se uma lista de extravagantes presentes recebidos pela pessoa que fingiu interesse na resposta da amiga.
O “perguntar-queixar”
O segundo tipo de “bumerangariar” identificado pelos investigadores é o “ask-complaining” — o “perguntar-queixar”. Envolve fazer uma pergunta seguida de uma reclamação.
“Já comeste anchovas na pizza?”. E, sem ouvir a resposta, quem perguntou já está a lamuriar-se da presença do peixe em cima da mozzarella, porque afinal foi só para isso que perguntou.
O “perguntar-partilhar”
O tipo final do “bumerangariar” é o “ask-sharing”, ou “perguntar-partilhar”, em português, que acontece quando se atira este bumerangue mental com uma pergunta, imediatamente seguida de uma declaração neutra. Acontece muito com os sonhos que temos e que tanto gostamos de partilhar, notam os autores do estudo.
Porque é que o fazemos?
O estudo inquiriu 155 indivíduos e concluiu que muitas pessoas põem o “bumerangariar” em prática porque acreditam que facilita a conversa e faz com que os outros se sintam incluídos.
Alguns inquiridos argumentaram que prefaciar uma revelação pessoal com uma pergunta parece mais apropriado do que simplesmente avançar a todo o gás com os seus pensamentos.
Mas então porque é que o “bumeranguiar” parece ter um efeito exatamente contrário à sua suposta finalidade? Os investigadores também se aperceberam disso. Segundo o estudo, os alvos do bumerangue tendem a considerar quem o atira como egocêntrico e pouco sincero.
A solução? Equilíbrio entre revelar e ouvir, dizem os investigadores.