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Do basquete ao ténis, EUA assistem a boicote histórico contra a injustiça racial

John G. Mabanglo / EPA

Jogadores dos Milwaukee Bucks e dos Orlando Magic ajoelham-se durante o hino

Um boicote desportivo histórico de protesto contra a injustiça racial marcou, esta quarta-feira, os Estados Unidos, após o afro-americano Jacob Blake ter sido baleado e gravemente ferido pela polícia no Wisconsin.

A Liga norte-americana de basquetebol (NBA) adiou os jogos desta quarta-feira dos play-offs, depois de os Milwaukee Bucks terem boicotado o encontro com os Orlando Magic.

“Nos últimos dias, no no nosso estado natal do Wisconsin, vimos o vídeo odioso em que Jacob Blake é alvejado nas costas sete vezes por um agente da polícia em Kenosha, assim como os tiros disparados contra os manifestantes. Apesar do esmagador apelo por mudanças, não houve ação, logo, a nossa atenção hoje não pode estar centrada no basquetebol”, afirmou Sterling Brown, jogador dos Bucks, que leu um comunicado da equipa ao lado dos restantes companheiros.

“Quando entramos no campo e representamos os Milwaukee e o Wisconsin, todos esperam que joguemos ao mais alto nível, que nos esforcemos ao máximo e nos responsabilizemos pelo nosso desempenho. Regemo-nos por esse padrão e, neste momento, exigimos o mesmo dos nossos legisladores e forças da autoridade. Pedimos justiça por Jacob Blake e exigimos a responsabilização dos agentes de polícia”, disse também George Hill.

No Twitter, o vice presidente da formação de Milwaukee, Alex Lasry, afirmou que “algumas coisas são maiores do que o basquetebol” e “a posição tomada por jogadores e organização mostra que estamos fartos“.

“Já chega. A mudança precisa de acontecer, e estou incrivelmente orgulhoso dos nossos rapazes. Estamos 100% com eles e prontos a ajudar a trazer mudanças a sério”, escreveu.

Depois deste boicote, a NBA e a associação de jogadores confirmaram que, pelos mesmos motivos, os três jogos desta quarta-feira foram adiados para data a definir, depois de a imprensa local avançar que os atletas dos LA Lakers, Portland Trail Blazers, Houston Rockets e Oklahoma Thunder também iam boicotar as partidas.

A medida recebeu apoio de jogadores da NBA das mais diversas equipas, incluindo da estrela LeBron James, dos Lakers, que declarou estar “farto disto” no Twitter.

Desde o regresso da época, após a paragem devido à pandemia de covid-19, em Orlando, jogadores da NBA têm protestado e exigido justiça após a morte de George Floyd, com camisolas do movimento “Black Lives Matter” e ajoelhando-se durante o hino nacional, entre outras ações públicas.

Na WNBA, a liga feminina de basquetebol dos Estados Unidos, duas equipas também se juntaram ao boicote. As atletas entraram em campo com t-shirts brancas com sete buracos nas costas, a representar os sete tiros que a polícia disparou contra Jacob Blake.

Na MLS, a principal liga de futebol do país, foram boicotados cinco jogos, assim como na MLB, principal liga de beisebol, onde também foram adiados dois encontros.

No ténis, a tenista japonesa Noami Osaka, que deveria jogar a semifinal do torneio WTA, em Cincinnati, esta quinta-feira, também anunciou que não iria comparecer no torneio como forma de protesto.

“Como mulher negra, sinto que há assuntos muito mais importantes que precisam de atenção imediata, em vez de me verem a jogar ténis”, escreveu a atleta, de 22 anos. “Assistir ao contínuo genocídio de pessoas negras às mãos da polícia está, honestamente, a deixar-me doente”, acrescentou.

Blake foi gravemente ferido, no domingo, no Winsconsi, onde outras duas pessoas morreram, na noite de terça-feira, num eventual ataque feito por um homem branco, que foi filmado por um telemóvel a abrir fogo no meio da uma estrada com uma espingarda semiautomática.

O incidente ocorreu quando centenas de pessoas expressavam a sua raiva, pela terceira noite consecutiva, depois de um vídeo ter mostrado o episódio em que Blake foi repetidamente alvejado por um polícia.

O agente disparou várias vezes nas costas do afro-americano, de 29 anos, quando este abria a porta de um veículo, onde estavam os seus três filhos menores. A vítima permanece internada no Hospital Froedtert, em Milwaukee, tendo ficado paralisado da cintura para baixo.

ZAP // Lusa

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