Novas provas da existência de água quente em Marte podem dar novas pistas sobre a existência de vida no planeta.
“Os nossos dados sugerem a presença de água na crosta de Marte numa altura comparável à das primeiras evidências de água na superfície da Terra, há cerca de 4,4 mil milhões de anos“, afirmou o autor principal do estudo publicado em novembro na Science Advances, Jack Gillespie, investigador da Faculdade de Geociências e Ambiente da Universidade de Lausanne, na Suíça.
“Esta descoberta fornece novas provas para compreender a evolução planetária de Marte, os processos que tiveram lugar no planeta e o seu potencial para ter albergado vida“, acrescenta o investigador, citado pela CNN.
“Black Beauty”, também conhecido como NWA 7034, foi encontrado no deserto do Sara em 2011. Foi ejetado da superfície marciana depois de outro objeto celeste ter atingido o planeta há entre 5 milhões e 10 milhões de anos atrás, e os seus fragmentos têm servido como uma fonte já popular para estudar Marte durante anos.
O estudo centrou-se no único grão do mineral zirconita encontrado no meteorito, que já valeu aos astrónomos outras descobertas no passado.
A análise da equipa mostra que a água estava presente há apenas 100 milhões de anos após a formação do planeta, o que sugere que Marte pode ter sido capaz de suportar vida num determinado momento da sua história.
“O Black Beauty contém centenas de fragmentos de rochas e minerais, cada um com uma parte diferente dos 4,5 mil milhões de anos da história marciana”, disse o coautor do estudo Aaron Cavosie, cientista planetário da Universidade de Curtin. “É a única fonte de peças para o puzzle geológico do Marte pré-Noachiano”.
“O período Noachiano ocorreu há aproximadamente 4,1/ 3,7 mil milhões de anos atrás, e pouco se sabe a partir de medições diretas que datam do período pré-Noachiano em Marte, entre 4,5 mil milhões e 4,1 mil milhões de anos atrás, “embora seja crucial compreender porque serve como a primeira página no livro de história de Marte”, explicou Cavosie.
Na Terra, os zircões de sistemas hidrotermais — formados quando a água é aquecida por atividade vulcânica subterrânea, por exemplo o fluxo ascendente de magma quente — têm padrões semelhantes aos encontrados em Black Beauty, explica a CNN.
Então, se existiam sistemas hidrotermais na crosta marciana há 4,45 mil milhões de anos, é provável que a água líquida tenha chegado à superfície, explicam os cientistas.
“Se os sistemas hidrotermais eram uma caraterística estável no início de Marte, isso indicaria que as condições de habitabilidade podem ter persistido durante um período de tempo considerável”, disse Cavosie. “Esta é agora uma hipótese testável que pode ser abordada através da recolha de mais dados de zirconitas marcianos”.