Andar sobre apenas dois pés terá passado a fazer parte do dia-a-dia dos humanos quando os nossos antepassados se afastaram das florestas para aproveitar os espaços abertos.
Não é a primeira vez que esta ideia é mencionada mas um novo estudo reforça: começámos a caminhar com dois pés para andar a trepar pelas árvores.
Andar sobre apenas dois pés terá passado a fazer parte do dia-a-dia dos humanos quando os nossos antepassados se afastaram das florestas para aproveitar os espaços abertos.
O estudo foi publicado na revista Science Advances e focou-se no comportamento de chimpanzés selvagens – os nossos “parentes” mais próximos.
Os chimpanzés Pan troglodytes schweinfurthii viviam no vale de Issa, no oeste da Tanzânia – um habitat semelhante ao dos primeiros hominídeos e, por isso, dão mais pistas sobre os factores ecológicos do bipedalismo.
Os movimentos e posturas dos chimpanzés do vale de Issa foram comparados com dados de estudos anteriores sobre chimpanzés que vivem em densas áreas florestais da África.
E os autores do estudo descobriram que estes chimpanzés de Issa não eram terrestres. Passavam o mesmo tempo nas árvores que os chimpanzés que viviam em florestas densas.
Esta pesquisa sugere que a evolução do bipedismo pode de facto ter sido uma estratégia que surgiu pela primeira vez enquanto os humanos ainda se movimentavam pelos ramos de árvores, resume o portal Science Alert.
A dúvida instala-se há muito tempo na comunidade científica: começámos a andar com duas pernas porque mudámos de habitat ou porque andávamos à procura de alimentos nas florestas (onde já morávamos há muito tempo)?
“Até hoje, as numerosas hipóteses para a evolução do bipedalismo partilham a ideia de que os hominídeos (ancestrais humanos) desceram das árvores e caminharam erectos no chão, especialmente em habitats mais áridos e abertos, sem cobertura de árvores”, começa por responder a antropóloga biológica Fiona Stewart, da University College London (UCL), co-autor do estudo.
Mas este estudo segue o sentido contrário. Através de estruturas ósseas, os autores concluíram que os primeiros hominídeos se moviam em ambientes específicos – embora os ossos não revelem a importância, a influência, do ambiente na movimentação dos humanos.
Este será a primeira análise que revela que os habitats de selva arborizada foram um catalisador para o bipedalismo terrestre.
Foi observado o comportamento posicional de 13 chimpanzés adultos, com quase 2.850 observações de actividades de escalada, caminhada e suspensão, ao longo de 15 meses – além de milhares de anotações sobre postura. Foram reunidos dados a cada 2 minutos, durante cada bloco de observação de uma hora.
Mais de 85% dos eventos de bipedalismo observados entre os chimpanzés do vale de Issa ocorreram em árvores, principalmente quando os chimpanzés procuravam comida.
Assim, este estudo sugere que o recuo das florestas no final do período Mioceno-Plioceno, há cerca de 5 milhões de anos, e os habitats de savana mais abertos não foram, de facto, um catalisador para a evolução do bipedalismo.
As árvores provavelmente foram essenciais para a sua evolução. E a procura por alimentos terá sido um grande impulsionador para esse “salto”.