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Biografia de Margarida Marante ressuscita vício e causa polémica

(dr) Livros Horizonte

A jornalista Margarida Marante

Margarida Marante, falecida em 2012, foi uma das grandes jornalistas que marcou a história da televisão portuguesa, papel que é agora ressuscitado numa biografia que está a causar polémica, porque também lembra o vício da cocaína e a paixão turbulenta com Emídio Rangel.

“A Marante”, como era conhecida entre os políticos que entrevistava, que a consideravam uma jornalista temida, com um estilo acutilante, entrevistou figuras como Mário Soares e Álvaro Cunhal e marcou as décadas de 1980 e de 1990 na televisão portuguesa.

Com um percurso profissional que inclui passagens pela RTP e pela SIC, mas também pela Rádio TSF e pelo semanário Expresso, é contudo o vício da cocaína que é relatado na biografia escrita por Maria João Martins e apresentada nesta segunda-feira, que está a vir ao de cima e a causar algum conforto entre alguns dos que a conheceram.

“Daniel Proença de Carvalho, que manteve sempre a amizade nesses tempos duros, pensa que ‘esse vício fora adquirido com Emídio Rangel, mas enquanto ele tinha estrutura física e emocional para recuperar, a Margarida não tanto’“, escreve Maria João Martins, citando o conhecido advogado e amigo da jornalista.

Emídio Rangel, com quem Margarida Marante foi casada, é descrito como “uma pessoa excessiva que não controlava um lado negro muito acentuado”, na opinião da cabeleireira Marina Cruz, amiga de Margarida Marante, um homem capaz “do melhor e do pior”.

Esta passagem do livro está a dar que falar, ainda que a família mais próxima, nomeadamente os filhos da jornalista, se alheem às polémicas.

Henrique, de 29 anos, Catarina, de 26, e Joana, de 22 – apenas as raparigas prestaram depoimentos para o livro, mas o jovem não deixou de estar presente na apresentação da obra -, deixaram claro que os momentos menos bons fazem parte da vida, desvalorizando a revelação feita por Proença de Carvalho.

“O livro, sendo pequeno, tem passagens tão bonitas que focarmo-nos na parte menos boa era tirar todo o mérito. Era desnecessário, embora conste do livro. Nós não objectámos. Tenho muito orgulho no que a minha mãe foi, com o bom e com o mau“, afirmou o filho, Henrique Manuel Granadeiro, realçando: “O legado da minha mãe é como um todo, com o bom e o mau, e nós preferimos focar-nos no bom. Acho que é o mais bonito”.

“Não valeria a pena este assunto ter sido abordado, porque os dois [Emídio Rangel e Margarida Marante] já não estão cá. Para quê falar em coisas que não interessam a ninguém?”, salientou por seu turno Marina Cruz, que foi próxima de Margarida Marante, lamentando a referência ao vício, conforme declarações ao Correio da Manhã.

Já a autora, Maria João Martins, frisou que “não lhe pareceu justo ignorar os momentos menos bons” da vida de Margarida Marante. “Mantive isso no livro e perante as últimas entrevistas da Margarida percebi que ela queria contar a história. Se ela o assumiu… estou em paz com a minha consciência”, disse.

A jornalista morreu aos 53 anos, vítima de um ataque cardíaco, enquanto estava em casa a ver televisão. Foi casada duas vezes – com Henrique Granadeiro e Emídio Rangel – e teve três filhos.

Após o último enlace, assumiu o namoro com o motorista Farinha Simões, às mãos do qual foi vítima de maus tratos, algo revelado mais tarde pela própria.

Antes da morte, separada e sem trabalho após a saída da SIC, Margarida Marante terá entrado em depressão.

“Aos 20 anos, Margarida Marante olhava a câmara olhos nos olhos com uma naturalidade arrepiante. Sabe quem já andou por estes meios que essa é uma aprendizagem difícil e demorada, mas nela parecia coisa inata. Estudava aplicadamente todos os dossiês e não se deixava fascinar pelo improviso”, escreve a autora da biografia que afirma que a jornalista revolucionou a entrevista política em televisão.

ZAP / Move

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