“O sofrimento longo transforma o coração numa pedra”. Biden elogia resposta da Nova Zelândia à violência armada

Doug Mills / ELA

Num encontro com a primeira-ministra neo-zelandesa na Casa Branca, a violência armada tornou-se o ponto central e Biden elogiou a resposta do país ao massacre nas mesquistas de Christchurch, em 2019.

Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, encontrou-se com Joe Biden na Casa Branca esta terça-feira. Os dois responsáveis políticos falaram sobre a influência da China no Pacífico e as alterações climáticas, mas o tema que dominou a reunião foi a violência armada, depois dos recentes tiroteios em Buffalo e Uvalde terem reacendido o debate sobre o controlo de armas nos Estados Unidos.

Recorde-se que a Nova Zelândia, que é um dos países mais pacíficos do mundo, foi abalada em 2019 por um tiroteio com motivações raciais em duas mesquitas em Christchurch, tendo 51 pessoas perdido a vida. Ardern agiu rapidamente em resposta ao massacre e proibiu a venda de quase todas as armas semi-automáticas no país.

“A sua liderança adoptou um papel crítico no palco global, ao galvanizar a acção nas alterações climáticas e o esforço global contra a violência e extremismo online, como o que aconteceu em Christchurch”, elogiu Biden.

A líder do Governo da Nova Zelândia comentou a situação actual com os tiroteios os EUA. “A nossa experiência, neste campo, é nossa. Mas se há algo que podemos partilhar que seja de algum valor, estamos aqui para a partilhar“, afirmou.

Biden também falou sobre o luto de quem perdeu familiares e amigos nos recentes tiroteios em massa em Buffalo, em Nova Iorque, e em Uvalde, no Texas. “Há uma expressão de uma poeta irlandês que diz “o sofrimento demasiado longo transforma o coração numa pedra“. Bem, há muito sofrimento. Já visitei mais locais onde houve tiroteios em massa, acho, do que qualquer outro Presidente da história americana, infelizmente”, lamentou.

O chefe de Estado mostrou-se interessado em tirar notas do exemplo neo-zelandês. “Quero trabalhar consigo neste esforço. E quero falar consigo sobre como essas negociações foram, se estiver disposta”, pediu Biden a Ardern.

Após a reunião, que durou cerca de uma hora e meia, a primeira-ministra respondeu ao apelo: “Apesar de ainda termos mais trabalho a fazer na Nova Zelândia no problema do crime armado, podemos partilhar o que aprendemos através das mudanças que fizemos”, cita o The Guardian.

Outros temas que marcaram a reunião foram o comércio — com Ardern a pedir a Biden que os EUA aderissem ao Acordo Transpacífico de Cooperação Económica — o clima, a segurança da região Indo-Pacífica, especialmente com a escalada de tensão recente entre a China e Taiwain, e também a guerra na Ucrânia.

Professora tentou trancar porta no Texas

Entretanto, foram revelados mais detalhes sobre o massacre na escola em Uvalde, no Texas, que matou 21 pessoas. Uma professora fechou uma porta da escola primária Robb, quando percebeu que havia um atirador no campus do estabelecimento de ensino, adiantaram as autoridades texanas.

A comunicação foi feita pelo diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas, Ravis Considine.

Inicialmente, a equipa de investigação do tiroteio disser que a professora havia mantido a porta aberta antes de Salvador Ramos, de 18 anos, entrar no complexo escolar em 24 de maio.

Os investigadores não revelaram na altura o que havia sido usado para abrir a porta.

Ravis Considine disse que a professora deixou a porta aberta, mas correu para dentro para buscar o seu telemóvel para ligar às forças de segurança, quando Salvador Ramos teve um acidente com a sua carrinha.

“Ela [professora] regressou enquanto estava ao telefone e ouviu alguém a gritar: ‘Ele [Salvador Ramos] tem uma arma‘, ela não o viu saltar a cerca e que ele tinha uma arma, então ela correu para dentro”, removendo uma pedra que apoiava a porta, indicou Considine.

“Verificámos que ela fechou a porta. A porta não trancava. Sabemos disso e agora os investigadores está a investigar por que não bloqueou”, acrescentou.

Um advogado disse ao San Antonio Express-News que a professora encerrou a porta depois de ter percebido que um atirador estava no local à solta.

“Ela viu os destroços [da carrinha]. Correu de volta para pegar no seu telemóvel para relatar o acidente. Voltou para telefonar ao 911 [número de emergência norte-americano]. Os homens da funerária [junto à escola] gritaram: ‘Ele tem uma arma!‘. Ela viu-o saltar a cerca e que tinha uma arma, então correu para dentro”, disse Don Flanery.

“Ela chutou a pedra para longe quando voltou. Ela lembra-se de fechar a porta enquanto dizia ao 911 que ele estava a disparar. Pensou que a porta iria trancar, porque essa porta deveria estar sempre trancada”, sustentou.

Don Flanery referiu ainda ao jornal que a professora tinha inicialmente aberto a porta para levar comida para a sala de aula.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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