Paulo Cunha / Lusa

Contas simples num dérbi como nunca se viu. Este sábado lembra muito o primeiro título do Benfica, a estreia de Eusébio em Alvalade (com direito a golo) e ainda o polémico cabeceamento de Luisão que valeu um campeonato.
A duas jornadas do fim do campeonato, o jogo da época joga-se este sábado às 18h00, com o troféu de campeão nacional indeciso entre os dois grandes lisboetas.
O Sporting parte com vantagem: basta aos leões vencerem o encontro para serem campeões na Luz, independentemente da margem. Até podem perder na última jornada — o confronto direto garante o bicampeonato.
A matemática não é tão amiga das águias como é dos leões: para ser campeão já no sábado, o Benfica tem de vencer por dois ou mais golos, anulando assim a desvantagem no confronto direto, fruto da derrota por 1-0 em Alvalade, na primeira volta. Neste cenário feliz para os encarnados, a formação de Bruno Lage pode dar-se ao luxo de perder em Braga na última jornada e de ver o Sporting vencer na receção ao Vitória: é campeão na mesma.
E se o Benfica vencer só por um golo? Nesse caso fica com vantagem de 3 pontos face ao Sporting e precisa de, pelo menos, “imitar” o resultado do Sporting na última jornada. Claro está que caso perca e os leões vençam na última jornada, o título pode fugir. A diferença de golos é o tira-teimas nesse cenário — e é atualmente favorável ao Sporting (+59 contra +56 dos encarnados).
Um empate no dérbi adia tudo para a última jornada. Aí, o Benfica só é campeão se tiver um resultado melhor do que o Sporting (se vencer e o Sporting não ganhar ou se empatar e o Sporting perder.
As contas são simples, e o dérbi, inédito: este sábado será a primeira vez na história do futebol português que duas equipas se defrontam com os mesmos pontos num duelo em que ambas se podem sagrar campeãs.
No entanto, não é a primeira vez que Benfica e Sporting se defrontam com os mesmos pontos para decidir o campeonato.
Dérbis decisivos: história grita mais vezes “SLB”
Viagem no tempo: há 90 anos, na época 1935/36, no Campo das Amoreiras, com 18 pontos cada um na penúltima jornada (o FC Porto ia logo atrás, com 16), as águias venceram os leões por 3-1 graças a um hat-trick de Alfredo Valadas, que entregaria praticamente o campeonato nacional aos encarnados — o primeiro do Benfica.
Prevendo vitória leonina na última jornada, o Benfica ficou nesse domingo a precisar apenas de um empate no último jogo para ser campeão nacional. Assim foi: empatou 2-2 na ida ao Estádio do Lima, do Boavista, embora nem precisasse, pois o Sporting perdeu 3-2 em Setúbal no encerramento da Liga.
Mais tarde, em 1961/62, o dérbi voltaria a decidir o campeonato, mas só para o lado leonino. Uma vitória caseira por 3-1 sobre o Benfica, na última jornada, deu o título ao Sporting, que recebia o na altura campeão nacional e europeu em título empatado em pontos (41) com o FC Porto. As águias tinham chegado a Alvalade com 36 pontos. Curiosamente, foi a estreia de Eusébio em Alvalade, com direito a golo.
Há 20 anos, em 2004/05, os rivais da 2.ª Circular chegavam à última jornada com os mesmos pontos (61), mas com os dragões a “queimar” os calcanhares dos dois, com menos três. Em frente aos benfiquistas, na Luz, seria Luisão a salvar a época, com um cabeceamento que causaria muita polémica, mas que valeu o campeonato, aos 83 minutos.
Quando Luisão marcou o golo da vitória contra o Sporting, decidindo o campeonato nacional. ⚽️🏆pic.twitter.com/1Cgui6EX4G
— VRed Baller (@VRedBaller) April 4, 2024
E se Giovanni Trapattoni dava nesse sábado ao Benfica o seu primeiro e último campeonato daquela década, a maldição do Sporting estavam longe de terminar nas luvas do guarda-redes Ricardo: poucos dias depois do dérbi, o Sporting perdia a final da Taça UEFA frente ao CSKA Moscovo.
As contas do Porto, Braga e dos que estão para descer
Na luta pelo terceiro lugar, FC Porto e Braga disputam o acesso direto à fase de grupos da Liga Europa. A vaga normalmente pertence ao vencedor da Taça de Portugal, mas como os finalistas são Benfica e Sporting – ambos com acesso assegurado à Liga dos Campeões – o lugar passa para o terceiro classificado da Liga.
O quarto classificado terá de disputar a segunda pré-eliminatória da Liga Europa e o quinto segue para a Liga Conferência.
Existe ainda uma possibilidade remota do quarto classificado ir diretamente à Liga Europa, caso seja o FC Porto, beneficiando do seu posicionamento no ranking UEFA. Para isso, dependerá também de resultados de Chelsea, Bétis ou Fiorentina na Liga Conferência e das suas classificações nos respetivos campeonatos.
Virando a tabela, quatro equipas ainda lutam pela permanência, com Boavista, Aves e Farense todos com 24 pontos. O Estrela da Amadora, com 29, está mais seguro, mas ainda não garantiu matematicamente a manutenção.
Por enquanto, uma coisa é certa: verde ou vermelha, o Marquês terá festa esta época.