A conhecida barragem das Três Gargantas, na China, está a abrandar a rotação da terra. Como é que as grandes construções podem afetar a duração dos dias?
Não há nenhum dia com a mesma duração. A cada século, os dias vão terminando cerca de dois milésimos de segundo mais tarde.
Há culpados “naturais” desta variância, como os terramotos ou a lua. O terramoto de 2011 no Japão, que desencadeou o acidente nuclear de Fukushima, acelerou em 1,8 milionésimos de segundo a rotação da terra, de acordo com um relatório da NASA. Já a lua, provoca uma fricção das marés sobre a terra, o que retarda a sua energia de rotação.
De acordo com a Science Focus, a tendência global é de abrandamento dos dias, mas foram já registados eventos que provocaram o oposto.
O dia 29 de junho de 2022 foi o dia mais curto alguma vez registado, 1,59 milissegundos mais rápido do que a média. Terão sido “alterações profundas no núcleo da terra” a provocar este acontecimento.
Mas é também o Homem o grande responsável pelos dias mais longos.
Por exemplo, a conhecida barragem das Três Gargantas, na China, é tão grande que está a afetar a rotação da Terra — podendo aumentar a duração de um dia em até 0,06 microssegundos , bem como deslocar os dois polos da terra em cerca de dois centímetros.
Mas como é isto possível?
Imagine um patinador de gelo: quando gira com os braços estendidos, fá-lo de forma mais lenta do que quando o faz com os braços para dentro.
O mesmo acontece com o planeta terra. O momento angular, ou seja, a “quantidade” de rotação de um objeto, depende da velocidade de rotação e da forma como a massa do objeto está distribuída.
A conservação do momento angular aplica-se ao sistema Terra-Lua, mas de forma inversa. Para manter o momento angular total, o sistema tem de se tornar menos compacto.
Quanto maior for a massa de um objeto, e quanto mais afastada estiver do centro de rotação, mais resiste à rotação. A isto se chama momento de inércia.
Estando a barragem chinesa a 185 metros acima do nível do mar, quando a barragem está cheia, tanto a massa local como a distância dessa massa à nossa linha de rotação aumentam, explica a Science Focus. Isto é, o momento de inércia aumenta, causando um muito ligeiro abrandamento na rotação a terra.
Segundo explicaram à Science Focus Maik Thomas e Robert Dill, professores do Centro Alemão de Investigação em Geociências, existiram ainda outras construções daquilo a que apelidam de “megaestruturas” que alteraram ainda mais a rotação da terra.
É o caso do lago Aral, localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, que “perdeu mais de um quarto do seu volume de água desde 1960”, contam. Era o terceiro maior lago do mundo, e “o abrandamento resultante da velocidade de rotação da Terra foi três vezes superior ao efeito da construção das Três Gargantas”.
De acordo com os cientistas, conhecer o tempo de rotação da terra é importante, uma vez que é necessário controlar os satélites e comandar as sondas que visitam os outros planetas do sistema solar.
Quanto mais “megaconstruções” existirem no planeta, mais alterações serão feitas na velocidade de rotação da terra. Os edifícios crescem, os dias também. A certeza que tínhamos sobre a sua duração é que diminui cada vez mais.