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Bairro de Loures transforma-se em galeria de arte ao ar livre

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A Quinta do Mocho, em Loures, transformou-se numa galeria de arte ao ar livre que atrai cada vez mais visitantes ao bairro, muitas vezes “rotulado” como um dos mais problemáticos do país.

Em outubro do ano passado, nasceu neste bairro da freguesia de Sacavém o Festival “O Bairro i O Mundo“, desenvolvido pela Câmara com o apoio do Conselho da Europa e de várias associações locais, com o objetivo de promover a inclusão social através da arte.

A pintura de fachadas é uma das componentes mais visíveis da iniciativa, que tem ali levado nos últimos meses dezenas de ‘graffiters’ nacionais e internacionais, para ali dar azo à sua criatividade.

O cantor jamaicano Bob Marley, crianças africanas, um mocho, uma girafa com um pijama de Minnie, a personagem da Disney, e uma cegonha gigante são algumas das representações que têm enchido de orgulho os moradores do Mocho e despertado a curiosidade de muitos visitantes, que outrora evitavam passar dentro do bairro.

“São muitos os carros que agora passam aqui e param para tirar fotografias. Antigamente nem sequer passavam aqui”, conta à Lusa Fernando Mendinho, proprietário de uma churrasqueira.

Enquanto observa o trabalho de um dos artistas, o morador, de 55 anos, queixa-se da “má fama” do bairro e assegura que a vida na Quinta do Mocho é pacífica: “Há pessoas aqui que são trabalhadoras e muito amáveis”, aponta.

Kedy Santos, morador e presidente da Associação Estrelas do Bairro, também sentiu uma “mudança para melhor” na forma como as pessoas olham para a Quinta do Mocho, referindo que o ambiente melhorou bastante: “O bairro agora está mais acolhedor, mais afável. As pessoas que passam já sentem mais. Isto é uma galeria de arte urbana que envolve as pessoas”.

Também na dinâmica da zona houve mudanças, nomeadamente no comportamento dos mais jovens.

“Explicamos aos jovens que se amam o bairro têm de ser os primeiros a cuidar dele. Hoje já sabem tomar certos procedimentos que outrora não sabiam. Sabem pedir autorização à PSP para fazer uma festa ou ir à câmara pedir materiais ou apoio para alguma iniciativa que queiram realizar”, conta.

Uns metros à frente, Miguel Brum, um dos ‘graffiters’ convidado, avaba de “dar uma nova vida” a um prédio. A imagem escolhida foi uma flor, para “representar o ciclo da vida”.

“Aqui temos liberdade criativa. Vimos cá dar de nós ao bairro e fazer aquilo que nos vai na mente”, afirma, enquanto observa, orgulhoso, o seu contributo.

Mas a pintura de fachadas é apenas uma das componentes deste projeto que pretende “levar a cabo uma intervenção mais profunda” e “apagar de vez a imagem negativa do bairro, segundo a vereadora da Coesão Social, Eugénia Coelho.

“Isto é apenas o pontapé de saída para a intervenção que queremos e estamos a fazer, com os moradores, neste bairro, nomeadamente na recuperação do edificado, na participação efetiva da população e procura de soluções para a sua vida”, aponta a autarca.

O Bairro i o Mundo já extravasou fronteiras e é um dos cinco finalistas do “Diversity Advantage Challenge”, um concurso europeu que visa premiar as melhores práticas no âmbito da diversidade cultural.

O vencedor será anunciado no dia 24 de março, em França, e concorrem também projetos da Alemanha, Bósnia-Herzegovina, Espanha e França.

Num passado não muito distante, a Quinta do Mocho era considerado um dos mais inseguros e problemáticos do país. Em 2008, a Câmara de Loures assinou com o Governo um Contrato Local de Segurança que visava criar estratégias de prevenção da criminalidade.

Quase sete anos depois, os moradores pedem uma nova oportunidade e que comecem a olhar para o bairro com outros olhos: “As pessoas pensam que a Quinta do Mocho é só monstros, mas estão muito enganados. Também há trabalhadores, estudantes e pessoas boas. Espero que este festival sirva para despertar muitas mentes que ainda estão ‘off line'”, afirma, com ar esperançado, o morador Ludy Crazy.

/Lusa

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