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Apesar de não ser mal intencionada, a “avónésia” — a tendência dos avós de se esquecerem de como é ter filhos pequenos e mimar excessivamente os netos — pode causar tensão nas famílias.
É uma realidade tão comum que até inspira muitas brincadeiras e a famosa frase “os pais criam, os avós estragam“. Enquanto os pais tentam impor disciplina e respeito aos filhos, os avós tendem a mimar excessivamente os netos com constantes guloseimas, presentes e cedências aos caprichos das crianças.
O fenómeno já tem um nome: avónésia, uma mistura entre avós e amnésia, referente ao aparente esquecimento dos avós das realidades da parentalidade. O termo até parece contradizer o ditado popular de que os avós são pais duas vezes, com os avós muitas vezes a ignorar as regras impostas pelos pais.
Quer se trate de dar doces em demasia aos netos, deixá-los ficar acordados depois da hora de deitar ou não impor limites ao uso de ecrãs — embora muitas vezes bem intencionadas — estas decisões dos avós podem criar tensão com os filhos.
O termo popularizou-se após uma publicação da terapêuta familiar Allie McQuaid, que usa o nome @millennialmomtherapist no Instagram, ter publicado um vídeo que se tornou viral. “Acabei de ouvir um termo chamado ‘avónésia’, quando os avós se esquecem de como é realmente ter filhos pequenos, e não consigo parar de pensar em como é correto”, escreveu.
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Na legenda, McQuaid cita várias histórias dos seus clientes sobre os comentários “ridículos” que receberam dos seus próprios pais depois de terem passado algum tempo com os netos.
Exemplos comuns de avónésia podem incluir: “Tu dormiste toda a noite assim que te trouxemos do hospital”, “nunca fizeste birras como esta“, “já estavas treinado para usar o bacio com 1 ano e só demorou um fim de semana”.
Os especialistas apontam várias razões que podem levar os avós a comportarem-se desta forma. Alguns podem encarar o facto de serem avós como uma oportunidade de se redimirem de erros passados caso tenham sido muito rígidos com os filhos, enquanto outros podem idealizar as suas memórias da parentalidade, esquecendo o cansaço diário. Outros sentem que a sua experiência como pais lhes dá o direito de intervir, ou simplesmente querem divertir-se a mimar os netos.
McQuaid acredita que é natural ter uma “memória mais erradas de como as coisas realmente eram” à medida que envelhecemos e recorda que as recomendações para educar os filhos evoluíram ao longo do tempo à medida que surgiram novas práticas e estudos. Assim, um conselho que um pediatra possa ter dado a um pai nos anos 80 ou 90 pode não ser aconselhável atualmente.
Outro fator para explicar esta discrepância generacional pode ser o facto de, nas gerações mais antigas, os pais — e as mães em particular — não se terem sentido tão à vontade para falar honestamente sobre a adaptação à parentalidade e sentirem-se pressionados a fingir que tudo era um mar de rosas.
“Alguns avós sentem que ganharam o direito de ser mais indulgentes”, explica a psicóloga Sanam Hafeez ao Parents. Embora estas ações possam ter origem no amor ou nostalgia, a avónésia pode conduzir a conflitos reais. “Pode minar a autoridade dos pais e confundir as crianças que recebem mensagens contraditórias”, alerta.
McQuaid acrescenta que este fenómeno “faz com que estes pais sintam que não podem partilhar as suas dificuldades ou emoções”. “Os nossos pais, que são mais velhos, dizem-nos que nunca chorámos (se isso é verdade ou não, aparentemente é discutível…), mas isso não muda o facto de o NOSSO bebé estar a chorar e precisar dos nossos cuidados”, escreveu.
Para manter a harmonia, os especialistas enfatizam a importância de uma comunicação clara e de limites. A conselheira licenciada Nicovia Bradley aconselha os pais a estabelecerem expectativas desde cedo, incluindo em relação a rotinas, tempo de ecrã e dieta. Mas o diálogo deve ser recíproco. “Os pais devem partilhar os seus pontos de vista e os avós devem poder exprimir os seus”, recomenda Bradley.
Os especialistas também aconselhar a escolher sabiamente as suas batalhas. A quebra ocasional de regras pode não valer uma discussão, mas os limites relacionados com a segurança não devem ser negociáveis.
Por último, ajudar os avós a encontrar um papel adequado na vida familiar pode reduzir as fricções. “Alguns podem preferir ser babysitters ocasionais, outros querem um envolvimento diário”, diz Khan. Compreender e respeitar essas preferências, mantendo os pais no papel principal, ajuda a promover a cooperação.