Autoridades iranianas usaram força excessiva e ilegal para reprimir manifestantes

STR / EPA

As autoridades iranianas utilizaram força excessiva e material ilegal para reprimir os protestos pacíficos contra a queda do avião de passageiros ucraniano, abatido pelo Irão na semana passada, reportou a Amnistia Internacional (AMI).

Segundo noticiou o Independent, as autoridades espancaram e detiveram dezenas de manifestantes, disparando balas de borracha e outras pontiagudas, “completamente inapropriadas para uso em qualquer situação policial”. A AMI alegou ter evidências dessa violência, como radiografias das vítimas. Duas dessas mostram as balas alojadas no joelho de um manifestante e no tornozelo de outro.

“A situação no Irão é agora mais dolorosa que a morte”, disse à AMI uma testemunha. “Eles estão a matar-nos lentamente, estão a torturar-nos até à morte”.

Depois de alguns dias de união nacional, despoletada pelo assassinato do general Qassem Soleimani, a destruição do avião – e a negação por parte das autoridades – fez ressurgir a revolta contra o governo. Além dos manifestantes detidos, outros arriscaram a pena de morte ao gritar “morte ao ditador”, em referência ao líder supremo Ali Khamenei.

O Independent já havia divulgado imagens que mostravam agentes a atingir manifestantes com cassetetes, enquanto a milícia armada vagueava pelas ruas, com alguns rebeldes cobertos de sangue. Embora as autoridades tenham negado, várias testemunhas relataram a existência de vítimas de tiros.

Uma dessas testemunhas disse à AMI que as forças de segurança lançaram gás lacrimogéneo na entrada de uma estação de metro para impedir que as pessoas saíssem e participassem do protesto. “Havia tanto gás lacrimogéneo. Eu estava tão estressada e ansiosa que nem percebi que havia sido atingido por uma bala. As forças especiais da polícia estavam a disparar balas pontiagudas contra as pessoas”, relatou.

“O meu casaco está agora cheio de buracos e tenho contusões no corpo. As ruas estavam cheias de agentes à paisana, armados, que disparavam tiros para o ar e ameaçavam atirar nas pessoas”, disse, acrescentando que foi perseguido por um membro das forças de segurança quando estava a filmar o protesto, tendo sido atingido na perna com uma bala.

A mesma testemunha alegou que as autoridades ameaçaram os médicos, tendo sido afastada de três centros de saúde e de uma clínica veterinária onde procurou tratamento. Na terça-feira, em Teerão, foi informada por um médico que teria que sair do consultório, pois caso o departamento de inteligência do hospital descobrisse que ela estava entre os manifestantes, seria detida.

Abedin Taherkenareh / EPA

Queda de um Boeing 737-800 no Irão

Embora várias detenções tenham ocorrido no país, a AMI referiu que em Teerão e Amol estão a ser negadas às famílias dos detidos informações sobre seu o paradeiro.

A organização recebeu também uma denúncia de violência sexual por parte de uma mulher, detida por agentes à paisana. A mulher foi levada para um quarto na delegacia, supostamente para ser interrogada, momento no qual um dos oficiais a forçou a fazer sexo oral e tentou violá-la.

“As forças de segurança do Irão realizaram, mais uma vez, um ataque repreensível aos direitos do povo iraniano à expressão e à reunião pacífica e recorreram a táticas ilegais e brutais”, disse o diretor de pesquisa da AMI para o Oriente Médio, Philip Luther.

E continuou: “As autoridades iranianas devem acabar com a repressão, com urgência, e garantir que as forças de segurança exerçam o máximo de contenção e respeitem os direitos dos manifestantes à expressão e reunião pacífica. Os detidos devem ser protegidos contra tortura e outros maus-tratos, e todos aqueles que foram arbitrariamente detidos devem ser libertados”.

Os protestos eclodiram em novembro, desencadeados por um aumento nos preços dos combustíveis em meio às sanções dos EUA, que Donald Trump exigiu que fossem reforçadas. Centenas de milhares de pessoas acabaram por manifestar-se contra a pobreza, a corrupção do governo e a natureza incorrigível do regime.

Acredita-se que entre 300 e 1500 pessoas tenham sido mortas e milhares detidas, mas uma paralisação da Internet imposta pelo governo permitiu ocultar detalhes dos protestos e o número de mortos.

As manifestações – as maiores desde a revolução de 1979 – tinham parado com o assassinato de Soleimani, reacendendo com a queda do avião ucraniano.

ZAP //

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