Governante polaco acusa a Bielorrússia de incentivar um “grande incidente” como forma de se vingar das instâncias europeias, que lhe aplicaram sucessivas sanções ao longo do último ano.
Em mais uma demonstração do clima antagónico que se vive entre a Bielorrússia e a União Europeia, as autoridades ao serviço de Alexander Lukashenko escoltaram mais de mil migrantes, provenientes de países do Médio Oriente, até à fronteira com a Polónia, dando continuidade a uma crise que já motivou pelo menos oito mortes.
Nos vídeos que começaram a circular nos meios de comunicação bielorrussos, é possível ver a guarda-fronteiriça bielorrussa, com uniformes de combate, a guiar colunas de indivíduos, onde constam crianças, ao longo de uma autoestrada e em direção à fronteira polaca, na região de Podlaskie.
Polish troops using tear gas against those trying to approach the border fence (and the other way around it seems). Apart from that the situation seems fairly calm so far. pic.twitter.com/9brFsHNIAR
— Tadeusz Giczan (@TadeuszGiczan) November 8, 2021
Ali, à espera dos migrantes estão também guardas-fronteiriços, desta feita polacos e munidos de gás pimenta, usado para dispersar a multidão, que tenta desesperadamente atravessar o arame farpado ou escalar as barreiras construídas para separar os dois países. Nos vídeos é também possível ver migrantes a gritar “Alemanha!”, em alusão ao país que têm como destino caso dali consigam sair. Mesmo assim, as piores condições que aqueles indivíduos enfrentam surgem à noite, com as temperaturas na região a atingirem já valores muito baixos. Para se protegerem, erguem tendas e acendem fogueiras.
Da parte da polícia polaca, a atitude é igualmente autoritária, já que do seu governo recebem ordens para não deixar entrar nenhum migrante.
Ao longo das últimas semanas, a Polónia e outros países da União Europeia acusaram a Bielorrússia de usar a crise migratória para provocar as instâncias europeias, como forma de se vingar pela aplicação de sanções decorrentes pelas infrações ao Estado de Direito, mas também ao Direito Internacional — como aconteceu com o desvio de um avião da Ryanair em maio.
Piotr Wawrzyk, vice-ministro nos Negócios Estrangeiros polaco, afirmou à rádio pública do país que a Bielorrússia estava a tentar causar um “grande incidente, de preferência com disparos e feridos”. Já o ministro da Defesa polaco, Mariusz Blaszczk, revelou que o país tem 12 mil soldados “preparados para proteger a fronteira”.
Tal como lembra o The Guardian, os migrantes que desde o início de outubro têm tentado atravessar a fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia ficam, na verdade, presos entre os dois países. Isto acontece porque a polícia polaca foi autorizada a expulsar os migrantes, mas também recusar os pedidos de asilo. A policia bielorrussa, por sua vez, recusa-se a deixá-los voltar a território bielorrusso, pelo que os migrantes acabam muitas vezes a viver nas florestas inóspitas da fronteira.
Crystal van Leeuwn, médica e membro da associação Médicos sem Fronteiras, revelou ao jornal britânico que é urgente que as organizações não governamentais consigam aceder a uma zona onde os migrantes possam estar de forma segura e apelou a que os regras internacionais sejam respeitadas.
Desde o início do ano, a Polónia identificou mais de 30 mil indivíduos a entrar nas suas fronteiras de forma ilegal, sendo que mais de 17 mil entradas aconteceram durante o mês de outubro. Apesar do grande fluxo, muitos dos migrantes têm como destino a Alemanha, país que diz ter recebido mais de seis mil refugiados através via Polónia e desde a Bielorrússia desde o início do ano.
A expectativa é que perante as imagens dos vídeos captados esta segunda-feira, com as colunas de migrantes tão organizadas e dirigidas pelos militares bielorrussos, o número de refugiados a tentar entrar na Polónia só aumente, assim como a pressão sobre o país da União Europeia que recentemente enveredou por uma política manifestamente anti-migrantes.