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Astrónomos vislumbram um “candidato a planeta” na zona habitável de Alpha Centauri

pelosbriseno / Flickr

Radiotelescópios do Observatório Very Large Array (VLA)

Uma equipa de astrónomos vislumbrou aquilo que pode ser um planeta até então desconhecido, a orbitar uma das estrelas mais próximas da Terra.

O ponto brilhante foi avistado perto de Alpha Centauri A, uma das duas estrelas que giram em torno uma da outra com tanta força que parecem apenas uma, na constelação meridional de Centaurus. As estrelas formam o que é chamado de sistema binário.

O vislumbre foi, no entanto, tão curto que os cientistas se referem à mancha brilhante como um “candidato a planeta”, cientes de que pode ser “apenas” evidência de asteróides alienígenas, faixas de poeira ou, mais comum ainda, uma falha imprevista nos equipamentos.

“Detetamos alguma coisa”, disse Pete Klupar, o engenheiro-chefe da Breakthrough Initiatives, uma série de projetos espaciais financiados por Yuri Milner, um empresário de Silicon Valley, nos Estados Unidos.

“Tanto pode ser um defeito na máquina, como pode ser um planeta, ou até asteróides ou poeira”, disse Klupar, citado pelo jornal britânico The Guardian.

A equipa de astrónomos internacional descobriu o “candidato a planeta” a propósito do programa “Novas Terras na região do Alpha Centauri” (Near, na sigla em inglês), apoiado pelo Breakthrough Watch – uma iniciativa que visa encontrar e estudar planetas rochosos do tamanho da Terra ao redor de Alpha Centauri e de outras estrelas próximas.

Para encontrar planetas em volta da estrela, os cientistas usaram o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Meridional Europeu, no deserto do Atacama, no Chile, e tiveram o auxílio de um novo coronógrafo, que permitiu bloquear a luz proveniente de Alpha Centauri, facilitando a localização de outros mundos.

Klupar compara esse dispositivo com o nosso polegar, ao alcance do braço, colocado em frente do sol para o tapar. De acordo com o mesmo, o procedimento permite uma sensibilidade sem precedentes para capturar imagens de planetas, além do sistema solar.

Imagem da observação feita pelos astrónomos. C1 representa o “candidato a planeta”

“Estamos a tentar ver a luz de uma lanterna ao lado de um farol”, explicou.

O artigo, publicado a 10 de fevereiro na revista Nature Communications, descreve as observações infravermelhas com uma duração total de 100 horas que, em maio e junho de 2019, revelaram um ponto brilhante no espaço, sem aparente explicação.

De acordo com os astrónomos, se as observações futuras confirmarem que é um planeta, então esta teria sido a primeira vez em que foi possível observar um exoplaneta ao redor de uma estrela próxima.

“Muitas pessoas dizem que os planetas não se podem formar neste tipo de sistema binário e essa é uma das razões pelas quais temos cautela em afirmar que é um planeta. Mas, se for, teria o tamanho de Neptuno”, disse Klupar.

A ser verdade, este planeta ficaria na zona habitável de Alpha Centauri, onde as temperaturas permitem que a água líquida se forme, e levaria cerca de uma década para completar uma órbita.

A professora Beth Biller, que estuda exoplanetas no Instituto de Astronomia da Universidade de Edimburgo, na Escócia, disse que os investigadores tinham “um candidato interessante”, mas que “faziam bem” em serem cautelosos.

“Será necessária uma deteção separada e independente para confirmar”, acrescentou.

“Se confirmado, poderia ser a deteção do disco de poeira ao redor da estrela ou de um verdadeiro planeta. Ambos seriam resultados muito interessantes”, concluiu Biller.

Klupar disse que a equipa de cientistas queria voltar a fazer a observação no final deste ano, para ver se o “planeta candidato” se moveu para onde as previsões sugerem que deveria estar. No entanto, isso poderá não ser possível devido à pandemia de covid-19.

Sofia Teixeira Santos, ZAP //

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