Astrónomos anunciam o buraco negro mais próximo da Terra

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International Gemini Observatory/NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spaceengine/M. Zamani

Impressão artística de um buraco negro num sistema binário

Astrónomos acabam de anunciar a descoberta do buraco negro mais próximo da Terra, a apenas 1.600 anos-luz. Trata-se da primeira deteção na Via Láctea de um buraco negro de massa estelar que não está em atividade.

A descoberta deste corpo celeste, denominado Gaia BH1, foi feita graças a observações precisas do movimento de uma estrela que o orbita a uma distância semelhante à que separa a Terra do Sol.

O buraco negro foi descoberto por investigadores do NOIRLab, um centro de investigação norte-americano na área da astronomia, que opera o telescópio Gemini Norte, no Havai, com que foram realizadas as observações.

Os resultados da descoberta foram publicados esta quarta-feira na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Um buraco negro é um corpo denso e escuro, de onde nada escapa, nem mesmo luz, devido ao campo gravitacional intenso, pelo que a sua presença é inferida através da interação com outros corpos ou matéria.

Embora existam provavelmente milhões de buracos negros de massa estelar na Via Láctea, poucos foram detetados. Nos casos em que foram detetados, tal deveu-se à interação com uma estrela na sua vizinhança.

O Gaia BH1, que tem uma massa 10 vezes superior à do Sol, é um buraco negro dito inativo, não está a alimentar-se do material da sua estrela vizinha, pelo que se confunde com o meio envolvente.

Será mesmo o mais próximo da Terra?

O buraco negro agora descoberto foi anunciado como o mais próximo da Terra, a uma distância de apenas 1.600 anos luz, e como tal divulgado na generalidade doa órgãos de comunicação social — incluindo os especializados em ciência.

É o próprio comunicado do NOIRLab que apresenta o Gaia BH1 como o mais próximo da Terra, “três vezes mais próximo do que o anterior detentor do recorde, um buraco negro binário de raios-X na constelação de Monoceros”.

Acontece que há menos de duas semanas, conforme noticiou na altura o ZAP, foi anunciada a descoberta de um novo buraco negro, mesmo “no nosso quintal”.

Este buraco negro monstruoso, com cerca de 12 vezes a massa do Sol, “está mais perto do Sol do que qualquer outro buraco negro conhecido, a uma distância de 1.550 anos-luz”, adiantou na altura a professora de física Sukanya Chakrabarti, uma das autoras do estudo que apresentou a descoberta.

 

Acontece então que este buraco negro, a apenas 1.550 anos luz do Sol, estará  uns 50 anos-luz, ou seja, 4.700 biliões de quilómetros, mais próximo da Terra do que o Gaia BH1 — mesmo descontando a diferença entre “estar mais próximo do Sol” e “estar mais próximo da Terra”, uma vez que a distância de uma ao outro é de apenas 148 milhões de quilómetros.

O que explica então que o Gaia BH1 tenha sido anunciado (e aparentemente aceite) como “o buraco negro mais próximo da Terra”?

Apenas um detalhe que o ZAP possa imaginar: o estudo que apresentou o Gaia BH1 foi já revisto por pares e publicado numa revista científica — no caso a Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Em contrapartida, o buraco negro de Sukanya Chakrabarti foi apresentado para publicação no Astrophysical Journal mas ainda revisto por pares, estando apenas disponível para já no arxiv, o site de pré-publicação de artigos da Universidade de Cornell.

A não ser que haja algum detalhe a escapar ao ZAP, significa então tal que muito brevemente, talvez dentro de um par de meses, teremos uma nova notícia para lhe dar: foi (outra vez) oficialmente descoberto o buraco negro mais próximo da Terra.

O detalhe que faltava

Entretanto, o nosso leitor Miguel Montes, num comentário à nossa notícia, acrescenta informação preciosa: na realidade, os dois objetos identificados são o mesmo buraco negro, que nos dois estudos científicos é apresentado com o mesmo nome de catálogo: Gaia DR3 4373465352415301632.

Assim, o objeto cósmico anunciado pela equipa do NOIRLab é efetivamente “o buraco negro mais próximo da Terra”. Mas a sua descoberta foi na realidade anunciada, há três semanas, pela equipa de Sukanya Chakrabarti.

Obrigado ao nosso leitor pelo “detalhe” que estava a escapar ao ZAP.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Esta notícia, e a notícia publicada a 22 de outubro, dizem respeito ao mesmo objeto. Se consultarem os respetivos artigos científicos, vão ver que o objeto tem o mesmo nome de catálogo nos dois: Gaia DR3 4373465352415301632.

    Isto basicamente resume-se a equipas diferentes atingirem, independentemente, o mesmo resultado. Sendo que esta equipa conclui que a descoberta é inequívoca.

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