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A parte perdida do Universo pode ter sido finalmente encontrada

NASA/CXC/K. Williamson, Springel et al.

Uma equipa de astrofísicos acredita ter encontrado uma nova e importante pista que pode ajudar a dar resposta a um dos maiores mistérios do Cosmos: onde se esconde cerca de um terço de todo o Universo?

A matéria que “falta” no Universo é uma massa diferente da matéria escura (outro grande puzzle científico no campo da Astronomia), composta por hidrogénio, hélio e outros elementos que surgiram logo após o Big Bang, tendo-se depois transformado em estrelas, planetas, poeira cósmica e outros objetos observáveis por telescópios.

Apesar de ser perfeitamente normal, os cientistas não conseguiram ainda encontrar um terço da matéria “normal” que deveria “morar” no Universo. Este cenário pode, contudo, estar prestes a mudar: uma equipa de cientistas afirma ter descoberto uma importante pista que nos poderá levar até lá, graças ao telescópio orbital Chandra da NASA.

“Se encontrarmos esta massa perdida, poderemos resolver um dos maiores enigmas da Astrofísica. Onde escondeu o Universo tanto da sua matéria que forma coisas como estrelas, planetas e nós?”, disse citado em comunicado Orsolya Kovacs, do centro de astrofísica Harvard-Smithsonian, nos Estados Unidos, autor principal do estudo, cujos resultados foram esta semana publicados na revista científica Astrophysical Journal.

Existem algumas teorias que tentam explicar a matéria perdida do Universo. A mais popular destas explicações sustenta que a massa em falta acumula-se em estruturas gigantes como fios de gás quente (com temperaturas abaixo dos 100.000 graus Kelvin) e muito quente (mais de 100.000 graus Kelvin) no espaço intergaláctico.

Apesar de os filamentos em causa serem invisíveis às lentes dos telescópios óticos, alguns podem ser rastreados noutras faixas – e foi a partir desta premissa que os cientistas levaram a investigação a cabo.

Recorrendo ao telescópio orbital de raios-X Chandra, os astrofísicos procuraram e estudaram filamentos de gás quente encontrados num quasar, o H1821+643. Esta brilhante fonte de raios-X é alimentada por um buraco negro supermassivo de rápido crescimento, localizado a 3.500 milhões de anos luz da Terra.

Os cientistas pensaram que se o que está em falta no Universo se esconde através de filamentos intergalácticos, então alguns dos raios-X do quasar poderiam ser absorvido por esse mesmo gás quente. Simplificando: as acumulações de gás intergaláctico podem conter a tão procurada massa do Universo.

“A nossa procura é semelhante ao princípio de como conduzir uma procura eficiente por animais nas vastas planícies de África”, explicou Akos Bogdan, coautor da investigação e astrofísico do Harvard Smithsonian Center for Astrophysics, na mesma nota. “Sabemos que os animais precisam beber e, por isso, faz sentido procurar à volta dos poços de água”.

O sinal de absorção de gás quente é muito fraco e difícil de reconhecer no espetro de um quasar, especialmente no contexto  de interferência. Cientes disto, os cientistas debruçaram a sua procura em apenas algumas partes do espetro. Graças a este novo método, escreveram os cientistas, foi possível identificar 17 possíveis filamentos de gás entre o quasar estudado e nós, e obter as respetivas distâncias.

“Estamos empolgados por termos conseguidos rastrear parte deste material perdido e, no futuro, podemos aplicar este mesmo método a outros dados do quasar para confirma que este mistério de longa data foi finalmente resolvido”, adiantou Randall Smith, outro dos cientistas envolvidos na investigação.

SA, ZAP //

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