As civilizações antigas do centro do México podem ter utilizado caraterísticas específicas da sua paisagem para determinar pontos-chave nas estações, permitindo-lhes planear o cultivo necessário para alimentar milhões de pessoas, revelou um novo estudo.
Liderada pela Universidade da Califórnia, a investigação – publicada recentemente na PNAS – valida algumas especulações de que os picos de horizonte recortados do Monte Tlaloc serviram como forma de monitorizar o calendário agrícola para acompanhar as estações do ano.
Na primavera, o Vale do México é quente e seco; no verão e no início do outono é o tempo das monções. O ciclo anual de chuvas e secas significa que as culturas devem ser plantadas em alturas muito específicas.
Esperar para plantar depois da época das monções terem começado pode colocar as plantações de milho em risco e expo-las a uma “época de crescimento muito curta” e a uma competição com as ervas daninhas, que já germinaram, explicou o ecologista Exequiel Ezcurra.
O observatório mais antigo do mundo é composto por uma linha de 13 torres de pedra, construídas por uma civilização desconhecida do Peru há mais de 2.300 anos. Quando o Sol nasce ou se põe entre cada torre, representa a passagem de um período específico de tempo.
O mesmo terá acontecido na Bacia do México, referiu a equipa de investigação. Mas neste caso, os marcadores do Sol foram escolhidos a partir de traços definidos pela paisagem natural.
Para “ajustar o seu calendário, os mexicanos precisavam de conhecer a posição do Sol em datas específicas do ano solar, um feito que só poderia ter sido realizado ao marcar o nascer (ou pôr-do-sol) do Sol em relação a um marco geográfico”, argumentaram os investigadores.
A orientação de edifícios específicos, como o Templo Mayor, na Cidade do México, teria sido concebida para que o Sol pudesse ser observado a partir de um ponto fixo à medida que atravessa o horizonte.
Do topo do Templo Mayor, no solstício de inverno, um observador veria o sol nascer mesmo atrás da ponta do Monte Tehuicocone. No solstício de verão, deste mesmo ponto veriam o Sol nascer atrás do atual sítio arqueológico de Tepetlaoxtoc, que se situa a 2.300 metros acima do nível do mar.
Os solstícios também seriam marcados por uma aparente pausa no progresso do Sol ao longo do horizonte, levantando-se e pondo-se atrás dos mesmos marcos no horizonte por um período de cerca de 10 dias.
Os equinócios também terão sido observados a partir do topo do Templo Mayor. Os equinócios de março e setembro, por exemplo, são marcados pelo nascer do Sol por trás do pico do Monte Tlaloc.
Ezcurra e a equipa calcularam que existe apenas um dia na primavera e um dia no outono, quando o Sol nasce diretamente atrás desta montanha, tornando-a numa forma altamente precisa de cronometragem.
No seu conjunto, os alinhamentos – juntamente com ilustrações e textos encontrados nos antigos códices mexicanos – mostrem que o Monte Tlaloc serviu como um instrumento fundamental para marcar épocas importantes do ano.
Com esta abordagem, o Sol levantar-se-ia diretamente atrás do Monte Tlaloc a cada 365 dias, e a cada quatro anos, um dia extra teria de ser contabilizado para manter o calendário no bom caminho.
Os investigadores da Universidade da Califórnia demonstraram que este dispositivo natural de cronometragem é matematicamente possível, mas se os antigos habitantes do Vale do México confiaram ou não nesta técnica é incerto.
Alguns registos históricos de colonos sugerem que o calendário asteca começava em fevereiro, mas também sugerem que rituais importantes e cerimónias sagradas ocorreram pela mesma altura em que o Sol se erguia por trás de marcos-chave.
Durante a parte mais seca do equinócio da primavera, por exemplo, o Sol nasce atrás do Monte Tlaloc, com o nome do deus da água e da chuva. O solstício de verão é uma celebração do sal e do milho e ocorre quando o Sol nasce atrás das margens do Lago Texcoco.
Finalmente, o equinócio de inverno ocorre quando o Sol nasce à beira de uma paisagem conhecida como Iztaccihuatl, que se parece com uma mulher adormecida. Esta época do ano está também associada à feminilidade e às deusas.
Mas se a posição do Sol em relação ao Monte Tlaloc é tão significativa como parece, como terá sido usada para marcar o início do ano?
Os vestígios de uma estrada elevada, que conduz à encosta da montanha, podem conter a resposta. O curioso sobre esta estrada é que é construída num ângulo pouco profundo, conduzindo um recinto rectangular com muro à volta.
Os investigadores acreditam que pode estar desalinhada intencionalmente para que o Sol se ponha entre as paredes que delimitam a estrada.
O dia em que o Sol é enquadrado dessa forma ocorre a 23 ou 24 de fevereiro, o início do ano solar mexicano.
“Estes resultados confirmam que, mesmo sem os instrumentos celestes utilizados pelos europeus no momento da sua chegada, os habitantes da Bacia do México mantinham um calendário extremamente preciso, que terá permitido ajustes do ano bissexto simplesmente utilizando observações sistemáticas do nascer do Sol contra as montanhas orientais”, concluíram os investigadores.