Um estudo realizado por uma historiadora alemã, divulgado esta quarta-feira pelo jornal britânico The Guardian, afirma que a agência de notícias americana Associated Press teria colaborado com o regime nazista durante os anos 1930.
A reportagem do The Guardian afirma que a AP foi a única agência de notícias ocidental autorizada a operar na Alemanha de Adolf Hitler, enquanto outros órgãos de imprensa estrangeiros foram banidos ou forçados a encerrar a actividade, depois de sofrerem ataques por empregarem jornalistas judeus.
A AP continuou em actividade na Alemanha até à entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 1941.
Até esse momento, a agência foi o principal meio de informação sobre o Estado totalitário para os países do Ocidente, fornecendo notícias e fotografias exclusivas.
No estudo, publicado no portal alemão de estudos de história contemporânea Zeithistorische Forschungen, a historiadora Harriet Scharnberg, da Universidade Martin Luther, na cidade alemã de Halle, sustenta que a AP só conseguiu manter a actividade no país através de uma colaboração mútua com o regime nazi.
A agência ter-se-á submetido à chamada Schriftleitergesetz, a lei dos editores, que proibia a divulgação de matérias destinadas a “enfraquecer o poder do Reich no exterior ou no país” e obrigava os meios de informação a contratar repórteres que trabalhavam para a divisão de propaganda do regime nazi.
Um dos fotógrafos contratados pela AP, Franz Roth, terá sido indicado directamente por Hitler, que também seleccionava as suas fotos para serem distribuídas pela agência.
Segundo a historiadora, ao mesmo tempo que fornecia aos países do Ocidente a possibilidade de observar a sociedade nazi por dentro, a agência também permitia que o regime ocultasse alguns dos seus crimes.
Harriet Scharnberg afirma que a colaboração entre a Associated Press e os nazis permitia ao regime alemão “retratar uma guerra de extermínio como uma guerra convencional“.
AP rejeita acusações
Em comunicado, a Associated Press negou qualquer alegação de que tenha colaborado propositadamente com os nazis e afirmou que a investigação da historiadora se refere a uma agência de fotos alemã que era subsidiária da AP britânica.
Segundo o comunicado, depois de 1935, a subsidiária foi afectada pelo controle de imprensa nazi.
A AP reconhece que distribuiu imagens disponibilizadas pelo regime nazi, mas afirma que os créditos das fotografias deixavam isso claro e que a decisão sobre a publicação das fotos cabia aos editores dos jornais.
“Imagens daquela época na Alemanha tinham um valor jornalístico legítimo, pois os editores e o público precisavam de saber mais sobre os nazis”, afirmou a agência.
“A AP não se envolveu directamente na publicação e, até à divulgação da investigação da sra. Scharnberg, não tinha conhecimento de nenhuma acusação de que material nosso pudesse ter sido produzido e seleccionado por ministérios de propaganda nazis”, diz a agência.
“Se tal aconteceu, os créditos das fotos teriam deixado isso claro”, realça a Associated Press.
ZAP / DW