O fenómeno é já incontornável: norte-americanas e inglesas chamadas Karen estão a mudar de nome — cuja popularidade nas meninas recém nascidas caiu a pique. A culpa é do meme “Karen / Can I speak to a manager”.
Atualmente, as última coisa que as norte-americanas ou inglesas querem é chamar-se Karen — e muitas estão a mudar de nome, porque “não conseguem escapar” ao meme.
Até há poucos anos, o nome Karen era inócuo, com origem numa palavra grega que significa “pura”.
Mas desde que, em 2005, a primeira imagem “Can I speak to a manager” — que retrata uma mulher a pedir para “falar com o gerente” — se tornou conhecida, o nome “Karen” ganhou vida própria na internet. Pelos piores motivos.
O meme surgiu como uma brincadeira para se referir a uma pessoa, geralmente uma mulher branca, arrogante, que se comporta de forma exigente ou exagerada em lojas ou restaurantes, e que pede para falar com o gerente para resolver um problema ou queixar-se de alguma coisa.
Com o tempo, “Karen” tornou-se um termo pejorativo, frequentemente usado em memes com mulheres brancas que usam o seu estatuto para exigir determinado tipo de tratamento. Ainda por cima, normalmente com um penteado de gosto duvidoso.
O nome é tão omnipresente, que há na internet dezenas de “vídeos de Karen”, fatos de Halloween “Karen racista”, e até um “restaurante Karen” onde os funcionários são propositadamente mal-educados para os clientes.
Karen throws her dog 💩 on a man who told her to pick it up pic.twitter.com/RfpMOsvi8f
— Karen (@crazykarens) January 8, 2022
Em 2020, o The Atlantic publicou mesmo um artigo com o título “Karen in Chief”. Num país “cheio de Karens”, diz o artigo, é apropriado chamar ao presidente Donald Trump “Comandante Karen”.
O problema é que nem todas as Karens são “Karens”.
Após anos a serem insultadas, assediadas, importunadas ou gozadas apenas por se chamarem Karen, algumas criaram um grupo do Facebook, “Karens United“, num esforço para lutar contra as associações negativas ao seu nome.
Mas muitas Karens acabaram por desistir e optaram simplesmente por mudá-lo.
Este é o caso de Karen Taylor, que explicou ao The New York Post a sua situação difícil. Depois de muito ponderar, começou a usar um novo nome, de origem gaélica, e está agora a tratar de o mudar legalmente.
“Hoje, quando alguém que se chame Karen chega a casa e liga a televisão ou vai à Internet, é muito provável que veja o seu nome arrastado pela lama. É como andar pela rua com uma etiqueta a dizer racista“, diz Taylor.
A empresária de 56 anos diz que chegou a encontrar cartazes em bares e cafés com sinais ou autocolantes a dizer “Karens não”.
“Demorei algumas semanas sem dormir até decidir que tinha de mudar de nome. Karen é um grande nome, e ser obrigada a desistir dele — a primeira coisa que os meus pais me deram — é uma grande decisão”.
Também Karen Gross, professora e escritora de 70 anos, desistiu do seu nome. Agora chama-se apenas K.
“Inicialmente pensei que era uma moda que iria desaparecer”, diz a escritora ao NYP. “Depois, comecei a ver artigos em publicações respeitáveis sobre o meme, usando-o para discutir privilégios brancos e comportamentos rudes e socialmente odiosos. Percebi que o meu nome se tinha tornado execrável”.
“Quero enviar uma mensagem sobre o poder dos memes . Temos que nos preocupar com a estereotipagem de um determinado nome, de uma forma tão negativa. Como educadora, vi isso acontecer frequentemente com crianças”, diz K.
“Devemos ser cautelosos sobre a forma como provocamos as pessoas e as assediamos por causa dos seus nomes. Os nomes não são uma piada. São um assunto sério”, garante a escritora.
Este ano, segundo a plataforma de inteligência artificial para escrita criativa Quillbot, “karen” foi o termo pejorativo mais pesquisado no Google.
Também este ano, apenas uma criança nascida no Reino Unido foi batizada com o nome Karen.
Se uma mulher de 70 anos muda o nome apenas porque o nome tem má fama na NET não aprendeu nada nos últimos 70 anos.