Enquanto lê este artigo, os medicamentos da primeira fábrica espacial estão pacientemente à espera para descer à Terra.
A meio de uma missão para criar as primeiras “fábricas espaciais” do mundo — com o objetivo de criar, autonomamente, fármacos e outros produtos mais fáceis de produzir em microgravidade, em órbita — a Varda encontra-se agora com uma pedra no sapato.
A Winnebago 1 partiu a 12 de junho para órbita com a ajuda de um foguete da empresa do multimilionário Elon Musk, SpaceX. O objetivo — que passava por, durante um mês, sintetizar o medicamento de combate ao VIH, ritonavir — foi cumprido sem grandes problemas.
“Os medicamentos espaciais acabaram de ser preparados, bebé!”, celebrava no agora X e antigo Twitter o o co-fundador da startup californiana, Delian Asparouhov, a 30 de junho. Mas faltava um passo importante: trazer as drogas para casa.
Quatro meses depois, os medicamentos continuam lá em cima, sem data prevista de retorno.
Drogas presas no Espaço. Porque não as trazem?
O retorno em atraso jaz, segundo a Varda, numa questão que já foi debatida no próprio Congresso dos EUA: a incapacidade da Administração Federal de Aviação (FAA) em acompanhar o ritmo de crescimento da indústria comercial espacial.
“Obviamente isto tem a ver com os níveis de financiamento não estarem alinhados ao enorme aumento da atividade no espaço comercial”, confessou Asparouhov em entrevista ao IEEE Spectrum.
Em resposta à acusação do co-fundador da startup — cujo plano histórico passa por produzir não só medicação como também semicondutores e cabos de fibra ótica na primeira fábrica espacial — a FAA afirma que a Varda não apresentou a documentação necessária para trazer os produtos para o planeta Azul.
Microgravidade e farmácia de mãos dadas
No dia 12 de junho, o foguete Falcon 9 desdobrou 72 pequenos satélites, entre os quais a inovadora fábrica espacial projetada para sintetizar fármacos em microgravidade, uma condição que mostrou ser promissora para melhorar a estabilidade e qualidade dos medicamentos.
O evento parecia assinalar o começo de algo revolucionário na medicina.
Em 2019, recorda o Big Think, uma experiência da empresa Merck demonstrou que uma formulação mais estável do seu medicamento contra o cancro, Keytruda, poderia ser produzida na ausência da gravidade terrestre. Essa estabilidade poderia permitir que o medicamento fosse administrado através de injeção em vez de infusão intravenosa.
Os resultados da Merck destacaram o comportamento único das partículas em microgravidade, cujos benefícios são precisamente o alvo da missão da Varda.
A fábrica espacial é composta por uma plataforma de satélite comercial com dois módulos anexados. O primeiro é uma unidade de fabricação automatizada e o segundo uma cápsula de reentrada projetada para retornar os produtos fabricados em segurança à Terra — algo que ainda está por acontecer naquele que vai ser o primeiro teste dos seus sistemas de reentrada e aterragem, com um pouso planeado na Área de Teste e Treino de Utah do Departamento de Defesa.