As alterações climáticas podem pôr termo a uma das corridas de cavalos mais exclusiva do mundo

Marcel Kessler/Pixabay

Corrida de White Turf Horse em St. Moritz

Provas deste ano tiveram que ser readaptadas ao piso, em degelo constante, o que coloca questões relativas à segurança dos participantes.

Todos os anos, em fevereiro, St. Moritz, uma das mais luxuosas e famosas estâncias de férias de inverno da Europa, recebe personalidades famosas e endinheiradas, não para o simples ato de fruir da paisagem e desfrutar de uns dias de descanso.

Ali se realiza também uma das mais exclusivas corridas de cavalos do mundo, sim, no gelo. Apesar da infraestrutura dispor de um aeroporto nas proximidades para servir os jatos privados, é frequente ver-se helicópteros a sobrevoar a estância e carros de luxo a percorrer os seus acessos.

À primeira vista, seria fácil dizer que os sucessivos alertas para as alterações climáticas e a necessidade de mudar hábitos não fazem eco naquela localização. No entanto, a perspetiva de que a White Turf, a única prova do género a realizar-se num lago congelado, possa vir a desaparecer tem despertado alguns alertas.

De facto, e tal como descreve o The Guardian, a corrida disputa-se numa larga porção de gelo, numa colina abaixo do resort, mas a subida das temperaturas tem motivado o degelo da superfície.

Desde que foi criado, estima-se que em 1864, pelos britânicos, a estância de inverno tornou-se, de facto, casa de alguns dos desportos de neve mais extremos e perigosos, como aquele em que os atletas são puxados, em plenos skis, por cavalos ao longo do lago.

No que respeita à White Turf, a prova realiza-se há 114 anos, com espectadores, artistas, responsáveis pelo catering, cavalos e os seus treinadores – todos em cima do gelo.

No entanto, a fórmula que funcionou durante anos parece estar a desaparecer, ou a derreter, já que, no último fim de semana, os organizadores receberam cerca de sete mil pessoas no evento, à medida que a água espreitava por baixo do gelo – e dos seus pés.

Uma das estratégias que seguiram foi a de limitar o peso das atrações, nomeadamente através de indicações para que os responsáveis pelo fornecimento da comida limitassem o seu equipamento.

No ano passado, os primeiros sinais já começaram a aparecer: os espectadores que assistiram à corrida na tenda VIP assistiram, em choque, ao degelo da camada que se encontrava por baixo dos seus pés – com a estrutura a ter que ser desmontada e reconstruída numa camada de gelo mais grossa.

Este ano, o perímetro da corrida teve que ser reduzido, uma vez que que o gelo, em algumas partes do lago, estava já a derreter.

À mesma fonte, um representante da corrida afirmou que “com gelo suficiente e sem demasiada neve, tudo parece perfeito da edição deste ano”. No entanto, ao longo da semana, enquanto a prova decorria, e com a água cada vez mais próxima na zona da meta, muitas das provas não puderam decorrer como planeado.

Todas as corridas foram reduzidas para uma distância de 800 metros – e a maioria começou com uma bandeirada, não uma partida das boxes, tal como acontece tradicionalmente nas corridas de cavalos. Como consequência, o número de participantes – a competir por um prémio de 15 mil libras – também sofreu baixas, devido ao elevado número de desistências.

Apesar de conseguirem ver alguma ação e competição no gelo cada vez mais frágil, os espectadores já começaram a antecipar o futuro da White Turf, perante a inviabilidade de uma corrida protagonizada por cavalos: uma prova de natação, tirando partido da água abundante presente na região.

ZAP //

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