No Azerbaijão, líderes internacionais pedem mais dinheiro para o combate às alterações climáticas, numa “cidade que cheira a petróleo” e num ano em que se ultrapassa a meta do Acordo de Paris.
Baku, no Azerbaijão, é “uma enorme bomba de gasolina. O cheiro era quase avassalador”, conta a repórter da BBC, que marca presença na COP29, que teve hoje a cerimónia inicial.
O petróleo e o gás representam mais de 90% das exportações do Azerbaijão, e o país apresnta ainda defeitos em vários outros campos, nomeadamente no que toca à liberdade de expressão (não há direito a protesto, por exemplo), como mostra a Human Rights Watch.
Mas foi Baku a cidade escolhida para o maior evento climático do ano, que vai decorrer até ao dia 22 deste mês: “a presidência da COP gira em torno de cinco regiões e este ano foi a vez da Europa de Leste”, explica a BBC.
Estamos a caminho da ruína”, afirmou o novo presidente da COP29, Mukhtar Babayev. “Quer as vejamos ou não, as pessoas estão a sofrer nas sombras. Estão a morrer na escuridão. E elas precisam de mais do que compaixão. Mais do que orações e papelada. Estão a clamar por liderança e ação. A COP29 é o momento imperdível para traçar um novo caminho para todos”, cita a AP.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU afirmou esta manhã que 2024 está prestes a tornar-se o ano mais quente de que há registo — a temperatura média global entre janeiro e setembro foi cerca de 1,54ºC superior à registada no final do século XIX.
O Acordo de Paris, estabelecido por quase 200 países em 2015, na COP21, previa a implementação de uma série de medidas que mantivessem a temperatura média global muito abaixo dos 2ºC e, de preferência, a 1,5ºC. Agora, garante-se que 2024 é o ano de ultrapassagem desse limite.
Segundo um relatório da Agência Europeia do Ambiente, a Europa é o continente onde esse aquecimento tem escalado mais depressa.
De acordo com a agência Lusa, chefe da ONU para o Clima, Simon Stiell, garantiu que o financiamento para a ajuda climática pelos países ricos não é uma “caridade” e é “do interesse de todos”.
A COP29 tem como foco as negociações do “novo objetivo quantificado coletivo” (NCQG) de financiamento para a ação climática.
Pretende-se, com esta medida, estabelecer um novo valor da ajuda financeira Norte-Sul para a luta e adaptação às alterações climáticas. No ano passado, nos Emirados Árabes Unidos, os países concordaram com uma transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos e em triplicar a capacidade das energias renováveis até 2030.
Ausências sentidas, algumas ressentidas
Várias personalidades internacionais não marcarão, este ano, presença na COP — a começar pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
De acordo com a Euronews, von der Leyen vai “concentrar-se nos seus deveres institucionais, uma vez que a Comissão se encontra numa fase de transição”.
A UE será representada, este ano, pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pelo responsável pela política climática, Wopke Hoekstra, e pelo Comissário da Energia, Kadri Simson.
Também Emmanuel Macron estará ausente, justificando a recusa em participar na discussão climática pela escolha de Baku como cidade a realizar o evento. Paris condenou o ano passado a ofensiva militar do Azerbaijão contra os separatistas arménios, e desde então a relação entre os dois países tem estado conturbada.
De acordo com a BBC, a COP fora inicialmente idealizada na Bulgária, mas a Rússia travou essa decisão.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou também que não irá à COP29, e juntam-se à decisão vários líderes internacionais, como Vladimir Putin, Justin Trudeau, o primeiro-ministro canadiano ou presidente chinês, Xi Jinping.
Também Greta Thunberg criticou o local escolhido para a COP “da paz”, um dos temas escolhidos para o evento, acusando o país de greenwashing: “o Azerbaijão está a planear fazer um greenwashing dos seus crimes contra os arménios, construindo uma “Zona de Energia Verde” em territórios onde a população foi etnicamente limpa”, escreveu no The Guardian.
De boas intenções está o Inferno cheio. A humanidade continua, embora ansiosa, em direcção ao abismo, graças essencialmente a duas condicionantes: ganância e inconsciência. E agora, com Trump no poder, ainda mais difícil (impossível?) vai ser parar a tempo de evitar o desastre. Se não for a guerra nuclear, a IA ou um grande asteróide a destruir-nos, talvez seja o planeta Terra a tratar do assunto.