Uma equipa internacional de investigadores encontrou, sob as densas florestas da Guatemala, dezenas de milhares de construções, que sugerem que a civilização maia tinha milhões de habitantes a mais do que se pensava.
Usando uma tecnologia de mapeamento aéreo, uma equipa internacional de investigadores descobriu, debaixo das densas florestas da Guatemala, pelo menos 60 mil casas, prédios, pirâmides e outras construções da civilização maia até agora desconhecidas.
Anunciada esta quinta-feira, a descoberta está a ser considerada um marco na arqueologia maia. O achado inclui campos de agricultura de tamanho industrial e canais de irrigação, e sugere que ali viviam milhões de pessoas a mais do que se pensava.
A descoberta foi feita na região de El Peten, que faz fronteira com o México. Por trás do trabalho arqueológico, que se estendeu por dois anos, estiveram cientistas americanos, europeus e guatemaltecos.
“É uma revolução na arqueologia maia“, disse Macello Canuto, um dos arqueólogos que lidera a equipa. Segundo Canuto, o achado significa que os maias tinham uma população de 10 milhões de pessoas. “Isso é duas ou três vezes mais habitantes do que se pensava até agora.”
Os arqueólogos usaram uma técnica chamada “Lidar”, Light Detection and Ranging, uma espécie de scanner que, instalado numa aeronave, mapeou uma aérea superior a 2 mil quilómetros quadrados.
“Com o LIDAR, não é necessário cortar a mata para ver o que há por baixo“, explicou Canuto. De acordo com o investigador da Universidade de Tulane, a tecnologia permite descobrir em tempo relativamente curto o que demoraria décadas através das técnicas tradicionalmente usadas pelos arqueólogos.
Uma das revelações do estudo foi a descoberta de uma nova pirâmide de 30 metros, que antes tinha sido identificada como um morro natural, em Tikal, o principal sítio arqueológico guatemalteco. Também foi encontrado no local um sistema de fosso e muralha com 14 quilómetros.
As imagens revelam, sobretudo, que os maias alteraram a paisagem local de forma muito mais ampla do que se pensava até agora. Em algumas regiões, 95% da área era de terras cultiváveis.
“A agricultura era muito mais intensa e sustentável do que pensávamos, eles cultivavam cada canto de terra que tivessem”, diz Francisco Estrada-Belli, outro membro da equipa de arqueólogos. “Eles modificaram a paisagem de forma inimaginável.”
Segundo o investigador, os maias chegaram a drenar áreas pantanosas para usar na agricultura. O extenso sistema de muros, fortificações e canais de irrigação sugerem, além disso, uma força de trabalho altamente organizada.
A civilização maia teve o seu esplendor entre os anos 1.000 a.C. e 900 d.C., continuando a desenvolver-se durante até a chegada dos conquistadores espanhóis. Foi uma das mais avançadas da Mesoamérica devido à sua matemática e engenharia sofisticadas, que lhe permitiram espalhar-se na América Central e México.
A sua rica cultura, que incluía uma língua escrita, arquitetura, artes e astrononomia, expandiu-se pelos territórios que atualmente abrangem a Guatemala, o México, El Salvador e Honduras. Os sus descendentes vivem na região até hoje.
As revelações do estudo, apoiado pela Fundação Património Cultural e Natural Maia, serão apresentadas num documentário será exibido nos EUA a 11 de fevereiro pelo canal de TV da National Geographic.
Ciberia // Deutsche Welle / National Geographic