Descobertas no Tibete as agulhas de pedra mais antigas do mundo

Yun Chen/Sichuan University

As agulhas de pedra eram mais fortes do que as feitas de osso e podem ter sido utilizadas para coser material de tendas

Uma equipa de arqueólogos descobriu seis agulhas com cerca de 9.000 anos ao longo da margem do Lago Xiada Co, no oeste do Tibete.

Em 2020, os cientistas desenterraram seis artefactos de pedra invulgares enquanto escavavam perto da margem do Lago Xiada Co.

Segundo o Science, estes objetos assemelhavam-se a agulhas de costura grossas.

Num novo estudo, publicado o mês passado no Journal of Archaeological: Reports, os investigadores observaram que os artefactos são mesmo agulhas de costura em pedra com cerca de 9000 anos, as mais antigas que há registo.

Além disso, são também as mais antigas ferramentas de pedra feitas por moagem encontradas no Planalto Tibetano, onde os povos antigos lutaram contra o clima para sobreviver.

A microscopia de campo ultra-profundo e a modelação 3D revelaram que a Agulha 1(a mais longa, larga e espessa) apresentava marcas ao longo do seu comprimento em todos os lados.

Estas riscas estavam ocultas por trás de marcas de trituração mais finas e multidirecionais, que sugere que a agulha foi primeiro raspada e depois esmerilada para lhe dar uma ponta. As outras apresentavam um padrão de riscas semelhante, o que sugere que foram fabricadas da mesma forma.

Yun Chen/ Sichuan University

As ranhuras da agulha 6 apresentam vestígios de pigmento vermelho que mais tarde foi identificado como ocre, o que sugere que esta agulha tinha um objetivo religioso

Para confirmar o modo como as agulhas foram feitas, os investigadores tentaram reproduzir a raspagem, o esmerilamento e a perfuração necessários utilizando placas de tremolite e obsidiana.

Seguidamente, a equipa recriou as riscas de raspagem reveladas após 50 minutos. A fricção da segunda placa sobre um seixo áspero durante 30 minutos gerou marcas características de moagem.

Os cientistas perfuraram à mão o olho com uma “broca” pontiaguda de obsidiana durante 5 horas, após as quais este deu lugar a um buraco liso, idêntico aos olhos das agulhas que a equipa recuperou.

Todo o processo demorou mais sete vezes que o fabrico de agulhas de osso, mais macias e maleáveis. Isto sugere que os antigos tibetanos tinham uma razão para usar a pedra e não o osso.

“Uma vez que eram mais duras e espessas do que as agulhas de osso, concluímos que estas agulhas de pedra podem ter sido utilizadas para coser materiais mais espessos, como uma tenda”, explica o primeiro autor do estudo, Yun Chen.

O desenvolvimento de agulhas desempenhou um papel fundamental na história da humanidade, uma vez que permitiu aos povos antigos produzir roupas e abrigos duradouros, o que lhes permitiu sobreviver em ambientes mais frios.

No entanto, os objetos ainda levantam muitas dúvidas. Alguns investigadores acreditam que as agulhas são “demasiado rombas” para coser e sugeriram que se tratavam de “ornamentos pessoais“.

Por fim, esta descoberta é surpreendente pois permite conhecer melhor a história dos povos antigos e a maneira como utilizavam estes artefactos — apesar de o objetivo da sua utilização continuar a ser um mistério.

Soraia Ferreira, ZAP //

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