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“O diabo entrou nele”: apresentador de TV acusado de abuso por mais de 50 pessoas

DWDD / Wikimedia

Matthijs van Nieuwkerk

Cara muito famosa nas televisões dos Países Baixos abusou e pode ter visto a sua carreira terminar mais cedo do que pensava.

Matthijs van Nieuwkerk, uma das principais caras das televisões nos Países Baixos, está a ser o centro de uma polémica que já é nacional.

O apresentador foi acusado por mais de 50 pessoas de comportamento abusivo durante as transmissões de um programa.

O programa em causa chamava-se De Wereld Draait Door (O mundo continua) e foi transmitido em directo durante quase 15 anos, com audiências de milhões de pessoas.

Num artigo publicado pelo jornal De Volkskrant, lê-se que nos bastidores desse programa reinava uma “cultura do medo”.

Mais de 50 pessoas que trabalharam nesse espaço televisivo relatam “explosões extremas de raiva e humilhação pública”. “Foi como se o diabo tivesse entrado nele”, relata um dos entrevistados.

O episódio que inicia o artigo remonta a 2019, quando foi transmitido por engano um excerto do ensaio, em directo.

Na transmissão, só sorrisos. Mas quando saíram do ar, Matthijs saiu “disparado” para o estúdio, começou a gritar com todos e ameaçou um técnico de som com uma cabeçada.

“Estás aqui parado a fazer o quê?”, gritou, com as cabeças juntas. “Trata-me por senhor Van Nieuwkerk! Deverias estar de joelhos a pedir desculpa! Pede desculpa ao senhor Van Nieuwkerk!” – e o técnico fez isso mesmo.

“Pensar nisso ainda hoje me dá arrepios”, comenta um ex-trabalhador, no jornal. “Fiquei envergonhado. Ficamos todos em choque, aquilo ultrapassou todos os limites”.

Como consequência destes momentos de fúria, dezenas de trabalhadores ficaram mesmo doentes. Outros decidiram nunca mais trabalhar num programa de Matthijs van Nieuwkerk.

A estação televisiva NPO nada fez. Agora reage, dizendo que está “extremamente chocada” com o que leu.

O director da estação pública onde o programa passou admite que já tinha recebido alguns avisos. E também admite que a própria estação pode ter ido “longe demais” ao construir o programa inteiro à volta de uma personalidade, para que o apresentador se sentisse “o mais confortável possível”.

O próprio apresentador também reagiu, no mesmo jornal: “Fiquei tocado ao ler isto. Não estamos neste mundo para deixar os outros com medo ou infelizes. Lamento não ter conseguido dar a todos uma sensação segura e agradável”.

Mas Matthijs considera que o artigo é um exagero: “Sim, eu era fanático, teimoso e rígido. E eu poderia ocasionalmente ter uma reacção feia. Mas fui retratado como um eterno acesso de raiva. Acho que não é o caso”.

Com ou sem exageros, já houve uma consequência: o Top2000, o seu programa habitual de fim de ano, que existe há 20 anos, foi cancelado.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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