Após uma década de animosidade e lutas judiciais, a Uber e os taxistas de Nova Iorque acordaram tréguas

Taxistas passarão a poder receber clientes a partir da plataforma, numa decisão que parece beneficiar todos os envolvidos.

O aparecimento dos serviços de transportes de passageiros providenciados pela plataforma Uber na cidade de Nova Iorque não divergiu muito das restantes cidades do mundo, com animosidades entre os profissionais alocados ao novo serviço e os tradicionais taxistas que temiam perder a sua quota de mercado. Após uma década de lutas e processos judiciais, as tréguas parecem eminentes graças à cedência do uso da plataforma eletrónica aos táxis.

Na última semana, a Curb Mobility e a Creative Mobile Technologies anunciaram ter chegado a um acordo para a inclusão dos táxis na plataforma Uber, o que quer dizer que a partir de agora quem solicitar o serviço de transporte pode ser transportado pelos famosos carros amarelos da cidade que nunca dorme.

Aos olhos de muitos, este parece ser sido um longo caminho percorrido. A meio da década passada, o CEO da Uber, Travis Kalanick afirmou que a sua empresa estava envolvida numa campanha política global e que “os adversários eram uns idiotas chamados táxis”. Em Nova Iorque, as tensões escalaram, com os taxistas a culparem as empresas de táxis pela diminuição de profissionais, pelo colapso das licenças que permite aos veículos operar nas cidades, mas também por uma série de suicídios de taxistas.

Quando as autoridades locais reagiram, tentando reprimir o ride-hail, a Uber apelou aos seus clientes para que apresentassem queixas. A resposta surgiu com regulamentos mais gravosos, com o objetivo de reduzir o trânsito de veículos de transportes de mercadorias e os seus efeitos ambientais.

Atualmente, a Uber tem uma nova CEO, Dara Khosrowshahi, que parece apostada em deixar todas estas quezílias para trás.  “A Uber tem uma longa história de parceria com a indústria de táxis, de forma a proporcionar aos motoristas mais formas de ganhar dinheiro e aos utilizadores outras formas de garantir opções de transporte”, pode ler-se num comunicado assinado por Andrew Macdonald, vice-presidente sénior da empresa.

De acordo com as tecnológicas envolvidas, o acordo foi estabelecido para dar aos taxistas acesso a novos potenciais clientes. Aos dias de hoje, os nova-iorquinos podem chamar os táxis na rua ou através das aplicações próprias, que apenas providencia o serviço de transporte – ao passo que as da Uber já incluem mais serviços, sendo, por isso, preferidas pelos consumidores.

Os ganhos também são substanciais para a Uber, que ganha quase 14 mil carros e condutores, numa altura em que se regista falta de oferta. Tal como relembra o Wired, muitos dos trabalhadores deixaram de conduzir para a empresa durante a pandemia, com a indústria do transporte rodoviário de mercadorias a contar com menos 22% dos condutores em comparação com abril de 2019. Este cenário pode ser agravado com o aumento dos preços dos combustíveis. Para já, a Uber diz que tem agora o maior número de condutores nos Estados Unidos desde o início da pandemia.

O caso de Nova Iorque é especialmente importante, uma vez que a cidade tem, desde 2018, limitado o número de veículos de transporte de mercadorias autorizados a circular nas estradas. Em janeiro, este número cifrava-se nas 96 mil licenças concedidas, apesar de 30 mil não terem sido utilizadas nesse mês. Esta pode também servir como uma estratégia de charme para a Uber junto dos reguladores, com que, regra geral, entrava em conflito.

Tal como aconteceu noutros territórios, a Uber tentou escapar às regras em vigor no que respeitava aos táxis argumentando que era uma plataforma tecnológica e não uma empresa do setor. Agora, com a perspetiva desta parceria com os táxis locais, a linha orientadora parece estar a mudar, com a Uber apostada em fazer os possíveis para cumprir as leis. Acordos semelhantes já aconteceram em Espanha, Colombia, Alemanha, Áustria e Hong Kong.

O acordo terá ainda de ser aprovado pela Comissão de Táxis e Limousine da cidade, mas um dos seus comissários já garantiu que o organismo está “sempre interessado” em “expandir as oportunidades económicas para os motoristas de táxi”.

Nesta fase, as opiniões dos taxistas ainda se dividem no que respeita à parceria. A New York Taxi Worker, representante de 21 mil motoristas da cidade, estima que estes farão, em média, menos 15% por viagem caso aceitem o serviço através da aplicação da Uber, por exemplo, em comparação com as suas tarifas tradicionais. A Uber, por seu lado, garante que quando os táxis começarem a ser uma opção para os utilizadores da aplicação da Uber os ganhos dos motoristas terão como base as regras estabelecidas na cidade para os restantes motoristas.

De acordo com algumas entrevistas concedidas por taxistas ao New Iorque Times, estes acreditam que o acordo os ajudará a aceitar mais viagens, o que significaria tornar os seus dias mais rentáveis, já que os utilizadores da aplicação têm mais tendência a solicitar viagens fora de Manhattan. Ao mesmo tempo, outros mostraram-se céticos em relação à Uber pelo papel que esta representou no que respeita ao melhoramento da indústria na última década.

Contrariamente aos restantes condutores da Uber na cidade, os taxistas poderão ver onde e quanto vale cada viagem antes de a aceitarem. Também não enfrentarão penalizações por as terem rejeitado antes de ter começar. Os condutores têm ainda a opção de rejeitarem a Uber por completo.

A mudança também deverá ser vantajosa para a luta por melhores condições de trabalho para os profissionais do setor, a qual se tem focado nas baixas remunerações em oposição aos elevados lucros obtidos pelas aplicações de telemóveis. De acordo com Emma Woods, porta-voz da associação Justice for App Workers, que representa cem mil motoristas alocados a aplicações móveis, o movimento passará a integrar também os taxistas.

ZAP //

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