Um ponto previsível do nosso universo é que os opostos se equilibram. Para cada tipo de partícula normal, feita de matéria, existe uma antipartícula da mesma massa que tem a carga elétrica oposta.
Os eletrões têm antieletrões (ou positrões), protões têm antiprotões. A nova medição também mostra que a antimatéria e matéria comportam-se de forma idêntica.
Quando partículas de matéria e a antimatéria se encontram, porém, anulam-se uma à outra, deixando apenas energia. Os físicos acreditam que no início do Universo, terá havido uma quantidade igual de matéria e antimatéria criada pelo Big Bang, e que cada uma deveria ter causado a destruição da outra.
De acordo com esta hipótese, o universo não deveria existir.
Mas é aqui que o enredo se complica: não conhecemos nenhuma antimatéria primordial que tenha sobrevivido ao Big Bang. Então por que motivo a matéria sobreviveu ao Big Bang mas a antimatéria não?
Uma das melhores formas de responder a esta pergunta é medir as propriedades fundamentais da matéria e da sua antimatéria da forma mais precisa possível e comparar os resultados, diz Stefan Ulmer, físico da instituição de pesquisa japonesa Riken.
Este cientista não está envolvido na nova pesquisa da medição da antimatéria que foi publicada esta quarta-feira na revista Nature.
Para medir a antimatéria, porém, é necessário antes de mais produzi-la. Recentemente, alguns físicos têm estudado o anti-hidrogénio, ou antimatéria do hidrogénio, já que este é uma das substâncias mais conhecidas.
Produzir anti-hidrogénio requer a mistura de 90 mil antiprotões com 3 milhões de positrões para produzir 50 mil átomos de anti-hidrogénio, sendo que apenas 20 deles são capturados por ímanes de 28 centímetros de comprimento para estudo posterior.
No estudo em questão, os cientistas conseguiram realizar a medição mais precisa do anti-hidrogénio. Para isso, precisaram de produzir 15 mil átomos de hidrogénio – o processo descrito acima repetido 750 vezes, estudando a frequência da luz emitida ou absorvida por átomos quando saltam para um estado de energia mais alto.
A medição dos níveis de energia do anti-hidrogénio e a quantidade de luz absorvida estão de acordo com as “contra-pares” hidrogénio, com uma precisão de 2 partes por bilião. Esta medição é uma melhoria dramática quando comparada com as realizadas anteriormente.
“É muito raro que experimentalistas aumentem a precisão de uma medição num fator de 100″, explica Ulmer ao Live Science. Jeffrey Hangst, físico da Universidade Aarhus, na Dinamarca, e co-autor do estudo, acrescenta que “há 20 anos as pessoas achavam que isto nunca iria acontecer”.
Então o que nos diz essa medição?
Como era esperado, o hidrogénio e o anti-hidrogénio comportam-se de forma idêntica. Agora, sabemos que também são idênticos numa medição com uma precisão da ordem das de partes por bilião.
Porém, Ulmer considera que esta medição não elimina a possibilidade de que haja uma discordância entre os dois tipos de matéria, se medidas com um nível ainda maior de precisão.
Hangst e os seus colegas pretendem agora realizar medições ainda mais precisas e explorar como a antimatéria reage com a gravidade. Será que cai como a matéria normal ou, por outro lado, “cai para cima“?
Hangst acredita que este mistério pode ser resolvido antes do final deste ano. “Temos outros truques nas nossas mangas”.
ZAP // HypeScience / LiveScience