Antiga chefe do FMI em Portugal fala de “retrocessos” no país

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Jim Lo Scalzo / EPA

A economista que liderou a missão do FMI em Portugal em 1983 considera que o progresso das reformas estruturais em Portugal tem ficado aquém do desejável e houve retrocessos.

A economista que liderou a missão do FMI em Portugal em 1983 considera que o progresso das reformas estruturais em Portugal tem ficado aquém do desejável e houve retrocessos, nomeadamente, no mercado de trabalho, recomendando maior flexibilidade nas negociações salariais.

“Na minha opinião, o progresso nas reformas do lado da oferta tem sido inferior ao desejável e, em algumas áreas (por exemplo, no mercado de trabalho), até houve alguns retrocessos”, afirmou Teresa Ter-Minassian, em entrevista por escrito à agência Lusa.

No entender da chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal em 1983, “seria desejável uma maior flexibilidade nas negociações salariais, para refletir as diferenças na produtividade e nas condições das empresas dos diferentes setores, e também seria [desejável] o aumento da concorrência em alguns setores, incluindo o dos serviços”.

Para Teresa Ter-Minassian, é igualmente necessário facilitar a resolução [liquidação e insolvência] de empresas que não sejam economicamente viáveis e promover a inovação, sobretudo nos setores tecnológicos, nomeadamente através de melhores sinergias entre as instituições de ensino superior e a indústria.

Na entrevista à Lusa, a economista frisou que também são necessárias reformas adicionais na educação, “para garantir que a força de trabalho portuguesa tem as competências necessárias para enfrentar novos desafios tecnológicos”.

Teresa Ter-Minassian afirmou ainda que “o Governo deveria concentrar-se na promoção de investimentos privados através de reformas tributárias e regulatórias adequadas, em vez de ‘escolher vencedores’ ou subsidiar empresas menos eficientes, incluindo empresas estatais”.

Questionada sobre se concorda que Portugal tem tido sorte nos últimos anos, como afirmou o antigo economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, em meados de julho, Teresa Ter-Minassian respondeu que o país “está certamente a beneficiar do hiato atualmente positivo entre a taxa de crescimento do PIB e o custo médio real da dívida pública”.

Segundo a economista italiana, esta margem, em conjunto com os excedentes primários moderados [que excluem os custos com juros da dívida] registados nos últimos anos, permitiram “a descida significativa do rácio da dívida em relação ao PIB” e, no seu entender, “a manutenção de excedentes primários significativos num futuro previsível é essencial para assegurar a redução sustentada da dívida pública” rumo à meta europeia de 60% do PIB.

Questionada sobre o que pode Portugal fazer para melhorar o desempenho da economia e das contas públicas e a qualidade de vida dos cidadãos, Teresa Ter-Minassian indicou que o país pode fazer mais progressos “através de reformas fiscais favoráveis ao crescimento e à equidade”.

E a economista italiana, que também passou pelo banco central italiano, recomendou ainda que Portugal melhore “a composição e eficiência dos programas de despesa pública”, “fortalecendo o desempenho das empresas públicas ou privatizando-as (ao mesmo tempo que assegurando uma concorrência e regulamentação adequadas)”, além da aposta nas reformas estruturais.

Teresa Ter-Minassian liderou a missão do FMI em Portugal em 1983, naquela que foi a segunda intervenção da instituição em Portugal, depois da primeira em 1977.

Naquela altura, com o desemprego acima dos 11% e uma dívida externa galopante devido à subida das taxas de juro internacionais, o FMI emprestou 750 milhões de dólares e impôs cortes nos salários da Função Pública, aumentos de preços, travão ao investimento público e cortes nos subsídios de Natal, entre outras medidas.

// Lusa

6 Comments

  1. Também era um governo PS. O Mário Soares. Mas os portugueses não aprendem e repetimos dose com o José Sócrates. Esperemos que estes Costa, Centeno & Cia. tenham mais juízo mas, vendo a dívida monstruosa sempre a aumentar, a débil produção e o crescente desequilíbrio da balança comercial, não fico nada animado. Parece que só o défice conta…

    • Errado!!
      Foi um governo do chamado Bloco Central formado pelo PS e pelo PSD, que tomou posse a meio de 1983, substituindo o governo da Aliança Democrática (AD) liderada pelo Balsemão que se demitiu com o país em falência técnica.
      E, só por acaso, o Ministro das Finanças era do PSD.
      .
      Nunca é tarde para aprender e, quando não se sabe, pergunta-se – ou evita-se comentar para não sair asneira!
      pt.m.wikipedia.org/wiki/Bloco_Central

      • Tem razão. O governo da AD, liderado pelo Balsemão foi o que levou Portugal à falência. O FMI veio com o BC liderado pelo Soares. Este, já em 1977, tinha pedido a intervenção do FMI. Durou 2 anos. A seguir veio o Cavaco, o “Pai do Monstro”. Também durou 2 anos. O monstro continua a engordar. Os conselhos do “Eu” (?) eram dispensáveis mas, já se sabe, a Internet é um vasto palco onde todos e qualquer um podem ser maiores, mais inteligentes, mais cultos e mais valentes, do que na verdade são. Na verdade, pegou apenas nas primeira palavras. O resto continua de pedra e cal.

      • Olha que o Eu! vem aí novamente morder-te a perna. Ele morde sempre várias vezes. Prepara-te!

      • Não foi o governo do Balsemão que levou Portugal à falência (assim com não foi APENAS o Sócrates que levou ao 3° “resgate”!).
        E, os meus “conselhos” não eram dispensáveis, como se comprova com o teu comentário – que confirma que o Governo de 1983 era do Bloco Central formado pelo PS e pelo PSD.
        “Peguei” no que estava factualmente errado!
        Rigor e honestidade intelectual ficam sempre bem!…

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