Os nossos antepassados já seriam artistas 60 mil anos antes das pinturas rupestres

Hovers et al. / J. Moskovich

Arqueólogos examinaram ferramentas de pedra com tecnologia avançada de digitalização 3D. Eram elementos decorativos intencionais e não marcas acidentais.

Os arqueólogos utilizaram abordagem multiescala para estudar estas gravuras antigas.

Primeiro, através de microscópios, examinaram cada artefacto, documentando todas as modificações da superfície.

Depois, utilizaram scanners óticos 3D de alta resolução para criar modelos digitais de cada peça, com resoluções minúsculas que chegavam a 33 micrómetros (cerca de um terço da largura de um cabelo humano).

Estes modelos detalhados permitiram à equipa analisar a textura da superfície e a geometria de incisões individuais, explica o Study Finds.

Em cada artefacto, identificaram “Áreas de Interesse” onde as incisões se agrupavam e, depois, recolheram amostras de múltiplas incisões dentro dessas áreas.

Para cada incisão, mediram quatro parâmetros em várias secções transversais: a largura entre as arestas, a área da secção transversal, a profundidade máxima e o ângulo de abertura.

Esta abordagem quantitativa forneceu dados sólidos para comparar incisões dentro dos artefactos e entre artefactos, ajudando a equipa a distinguir padrões intencionais de marcas utilitárias com base em critérios objetivos em vez de impressões subjetivas.

Os cinco artefactos foram divididos em dois grupos distintos.

No primeiro grupo ficaram os núcleos de Levallois de Manot e Qafzeh, e as plaquetas de Quneitra; tinham características semelhantes nas suas incisões – cortes mais profundos e ranhuras mais largas com ângulos de abertura consistentes de cerca de 148 a 149 graus. As incisões formaram padrões claros com uma sobreposição mínima entre as marcas.

O núcleo de Manot mostrou especificamente 64 incisões irradiando num padrão em leque a partir do centro da peça, organizadas em três áreas de interesse distintas. Cada área apresentou características geométricas semelhantes nas incisões.

O segundo grupo era constituído por dois artefactos da Gruta de Amud, que apresentavam características marcadamente diferentes. As suas incisões eram muito mais superficiais e mais estreitas, com uma orientação altamente variável e uma sobreposição substancial entre as marcas. A análise estatística confirmou que estas diferenças eram significativas.

Ou seja, este estudo revela gravações antigas em pedra que recuam em milhares de anos a linha temporal da criatividade humana. Os nossos antecessores já seriam artistas 60 mil anos antes das pinturas rupestres.

Estas são gravações deliberadas em ferramentas de pedra com até 100.000 anos, recuando significativamente a data até agora aceite para o início da expressão simbólica humana.

Os artefactos eram de vários sítios do Paleolítico Médio no Levante.

A evidência mais impressionante foi encontrada na Gruta de Manot, em Israel, onde um núcleo de pedra do tipo Levallois apresentava 64 incisões feitas com precisão, formando um padrão em leque.

Estas gravações foram realizadas antes das fases finais de produção da ferramenta, o que sugere que faziam parte intencional do processo de fabrico, e não foram acrescentadas posteriormente. Eram elementos decorativos intencionais, e não marcas acidentais.

Através de uma análise geométrica detalhada, os investigadores confirmaram que as incisões deliberadas eram mais profundas, largas e consistentes do que os riscos utilitários.

Estas ferramentas foram criadas tanto por Homo sapiens como por Neandertais – o que sugere que o pensamento simbólico era partilhado por diferentes espécies humanas.

ZAP //

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